Problemas, problemas e mais problemas...

Problemas, problemas e problemas. Tenho tido muitos problemas ultimamente, alguns mais graves, outros nem tanto, mas problemas sempre são problemas.

A começar por agora. Estou eu, aqui sentado com um frio danado na frente do computador, com muito café no sangue para conseguir dormir e uma vontade louca de reclamar e compartilhar as desavenças e infortúnios da vida.

Por falar nisso é bem complicado esse negócio de dividir problemas via internet sabia? É que a insegurança e a sensação de que ninguém lê os amontoados de letras que chamamos de frases, e que publicamos é sempre presente.

Talvez fosse mais justo reclamar à mulher nua que tenho desenhada na parede de meu quarto, e que apesar da insistência em lá se fazer presença, dia após dia vem sumindo com as várias mãos de tinta sobre ela desferida, ou quem sabe, dividir os meus problemas com meu cão, o Mancuso, de três patas, e muito dengoso por sinal. Talvez tudo isso fosse mais eficiente e quem sabe, mais digno, mas vou insistir na internet.

Tento me lembrar do último problema que tive e admito que me dói recordá-lo e perceber que ainda não encontrei sua solução, e mais, que provavelmente, nunca encontrarei.

Era noite como hoje, frio como hoje, por volta das onze horas como hoje, mas era ontem. Estava eu, sonolento em meu ritual de preparo para encarar os sonhos e/ou pesadelos da madrugada. Na boca o gosto de menta da pasta de dente, em mãos um livro do Rubem Braga. Li a última crônica da noite, marquei onde havia parado e coloquei a obra sobre o criado-mudo. Ameacei apagar a luz, mas antes de fazê-lo, resolvi espiar as horas. Foi aí que tudo aconteceu.

Sem querer, deixei vir à tona meu lado desengonçado, que sempre aparece sem aviso ou premeditação Esbarrei no criado-mudo, derrubei o livro, que caiu aberto, e pronto... Lá se foi o marca-páginas, parar a uma distância considerável de seu local de trabalho. Não sei em que página estava, nem do assunto em pauta, eu me lembro. Confesso que emputecido (desculpe-me o leitor mais recatado pelo termo) nem o recolhi, e como espécie de castigo o deixei ali, no chão, até amanhecer.

Mas tudo bem. Já superei isso. O máximo que terei que fazer é ler algumas crônicas repetidas e se tratando do Rubem Braga, não é esforço nenhum.

O que eu quero, na verdade, é falar de outros problemas... Da prova que não estudei, do dentista de amanhã, do dinheiro que não veio, da caligrafia que não compreendi, do CD que riscou, do Fusfabill que não pegou, da gasolina que subiu, da gripe que peguei, do time que empatou, da mentira que ouvi, do orçamento que não fechei, do filme que me decepcionei, da sinuca que perdi, da crônica que não saiu. É isso que quero dizer... Da fome mundial, do aquecimento global, da manipulação midiática, da geada no sul, da violência urbana, do título roubado de 95, das inundações monçônicas na Índia, do capitalismo selvagem, do socialismo utópico. É isso que eu quero... Quero reclamar e desabafar porque, meu leitor, meu caro e honroso leitor, definitivamente, esclarecidamente, confirmadamente e comprovadamente, eu TENHO PROBLEMAS!

...

É. Tenho problemas!

...

Tenho problemas.

...

Tenho problemas?

...

Tudo bem... Eu sei... Não tenho tantos problemas. Até ouço meu pai a dizer, com sua voz de quem já se acostumou a falar por breves 45 anos: “Você tem um amor, uma família, um lar,emprego, um dom e várias, infinitas, infindáveis oportunidades de vencer em alguma coisa. Sim. Você tem problemas, e junto com eles, tem total condição de resolvê-los”.

Diferentemente encontra-se meu cão, o Mancuso, que tem apenas três patas e anda com alguma dificuldade. Diferentemente encontra-se e a mulher nua, desenhada na parede que cada dia mais transparente, incondicionalmente vai desaparecer. Esses sim são problemas que se preze. Ainda bem que não fui importuná-los com as minhas queixas sem fundamento.

Ainda bem.

Agora chega de escrever, pois ainda tenho algumas crônicas repetidas do Rubem Braga para ler até o sono vir. Até a próxima crônica !