Mundo cheio, gente vazia

Eu não sou um saudosista ou um cego seguidor desses tantos “ismos” que nos oferecem vida afora. Não acho necessariamente que no “meu tempo” as coisas eram melhores. Aliás, nem sei ao certo o que é o meu tempo.

Mas preciso escrever sobre isso. Sobre o que todo mundo já escreveu – preciso repetir-me para falar o que nunca falei.

Não cabe mais ninguém no mundo. Deu: lotação esgotada. Já contabilizam mais de seis bilhões, e subindo. Muita gente. Não por questões de densidade demográfica, não, isso se resolveria fácil com empurrõezinhos para cá e para lá. O que passa é que as pessoas ocupam mais espaço do que deveriam.

Tantos idiotas e inúteis no mundo roubaram o lugar do que seria uma nova geração. As coisas não vão mudar. As pessoas entupiram as cidades com sentimentos que se consomem a si próprios, estupidezes que subverteram o verdadeiro sentido de viver. Inverteram valores.

Não sou um neo-conservador. Não estou fazendo um discurso de “gente, vamos nos amar, nos comportar e salvar o mundo”. Não mesmo. Longe disso. Mas abro os olhos para como as relações são, hoje, nada mais do que meros encontros robóticos.

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Ainda me impressiono com a banalidade com que muitos tratam pequenos instantes que, para mim, ainda são especiais. Ainda paro para admirar a mistura de cores no céu, no pôr-do-sol desses dias frios. Me internem. Ainda rio sozinho com o vento na cara. Devo eu ser um idiota.

Tenho pernas: duas boas pernas, que cansam também. Elas não conseguem vencer a fúria dos pés emborrachados de tantos e tantos carros que se atropelam nas ruas. Mas elas andam. Não sou contra nenhum tipo de avanço tecnológico – não vou dizer que carroças eram mais atraentes e menos prejudiciais ao ambiente. Mas também não digo – nem sob tortura – que admiro a postura desses imbecis que converteram o carro numa extensão de sua idiotice, e dele não saem, e sem ele não vivem – e se amam, apenas amando sua casa de lata.

As pessoas adoram frases como “viva cada dia como se fosse o último”, ou “a vida passa e não volta”, ou “o tempo não pára” (ainda que eu goste dessa do Cazuza). Isso é de um vazio sem tamanho. Auto-ajuda é suicídio lento e covarde. Como ler Paulo Coelho em slow-motion.