Uma noite afogada no rio

Uma noite. Mais uma noite. E você não percebe o olhar daquele que berra em silêncio. No meio da confusão do bar, sinfonia de vozes. Acordes de egos. Um ouvido mais apurado escutaria assim. Solidão. Rio de Janeiro hora zero.

Mais um homem. Um qualquer. E você só percebe quando sua amiga te cutuca e diz: Ei, o cara ali não tá bem não. Ela gosta de causas perdidas, dessas irrecuperáveis, e era esse o mote da noite. Restauração. Recolher cada pedaço da quebradeira e formar um novo mosaico. Era isso. Caco por caco. Transformação.

Mas o homem bebia e foi num pulo que da mesa para a calçada, aconteceu. Assim. E nesse momento, o homem já dormia em segredo. Ela sacudiu o corpo. Botou sal pra pressão, açucar para a glicose, carinho para o coração. A mulher levanta o homem. Dizem. Mas ele caiu. Talvez por sofrer de amor. Bebeu mesmo, caiu. E, agora, duas mulheres, que não aquela, tentavam recuperar-lhe a dignidade, talvez a vida naquela esquina do bar Arco-íris.

As pessoas passavam. As pessoas olhavam. Só uma parou. Com mochila nas costas, olhar de menino. Parou e ficou. Companheiro diante do inevitável.

A samu não veio. Coma alcoólico é besteira.

A vida prossegue. A realidade fica. Carregada de imagens. Inquietação. Chego em casa, abro a janela e grito. Ninguém escuta.

E é só.