F O M E


             Já dizia alguém: "a fome é inimiga do amor", que também significa "inimiga do respeito". Quem anda com o estômago vazio não tem cabeça para se lembrar de éticas educacionais.
             Esse é o caso do Zé Mulambo, mulato criado ao léu, na chuva, no sol e no frio, sem casa para morar, sem mestre para educá-lo, sem letras e sem cerimônia. Por tudo isto é que deu para a única coisa na vida: "surripiar" os bolsos do outros. Carteiras de senhoras, nem se fale! Dezenas, centenas, acho que até mais de mil! Em cidade grande, isto é comum! Já faz parte da história, melhor dizendo, do folclore brasileiro! Vejam só, aonde é que a nossa cultura foi parar!!!
             Mestre no ofício,já deu diploma para muitos gurís das redondezas, nas favelas, nas ruas, em baixo das pontes. Virou professor sem nunca ter frequentado uma escola de verdade! Só falta mesmo é tirar carteira no Ministério do Trabalho!
             E assim é que se tornou "malandro elegante", já almoçou no Copacabana Palace e jantou no Oba-Oba onde se deslumbrou com as mais belas mulatas do Sargentelli. Isto quando a féria é bem grande! Nestas ocasiões, ele até é generoso com os pobres e mendigos seus conhecidos, aqueles menos favorecidos de "cuca", como dizia ele, os que não têm idéia para "pescar" os "patos" do Rio de Janeiro.
             Com ele é diferente! Quando a fome aperta, pede comida e não dão, vai mesmo em frente, na malandragem e na coragem! -- "Passe prá cá a grana, se não eu mato!" -- de pistola em punho, se é de brinquedo, não sei! Só sei que a fome que tem feito muitos santos, loucos e até anjinhos, fez também nascer e crescer um dos maiores criminosos do Brasil!
Victoria Magna
Enviado por Victoria Magna em 27/01/2006
Reeditado em 27/01/2006
Código do texto: T104661