A MORTE DO ZÉ PEREIRA

Enastácio sempre gostou de carnaval. Contava os dias, semanas e meses para o próximo carnaval. Ele era o responsável pelo tradicional Zé Pereira ,ou Boi – Bumbá, que alegrava as noites de janeiro na cidade de Piranga. O Zé Pereira antecipava a festa que seria o carnaval. Os homens vestidos de mulheres, mulheres fantasiadas e crianças correndo atrás do boi. Enastácio além de preparar o Zé Pereira, era o miolo do boi. Dava vida aquele boi de retalho velho.

“ Olha o Zé Pereira, bate com a bunda na poeira” – cantavam todos, enquanto o boi vinha descendo a ladeira e os bonecos gigantes alegravam e assustavam as crianças e os adultos. Enastácio ria dentro do boi. Como gostava de correr atrás da criançada e assustar o povo que ficava no contorno da praça matriz. E aquela noite antecederia a morte do Zé Pereira. Uma noite antes do sábado de carnaval, o povo saia de preto, chorando . O caixão feito de madeira velha e retalhos era jogado no Rio Piranga. Ali decretava-se o fim do Zé Pereira e o início do carnaval. Depois de jogado o caixão, o povo voltava alegre e cantando. Era o início do carnaval.

Antes da última noite do Zé Pereira, Enastácio cantava junto e dançava com as crianças. Como fazia calor dentro daquele boi. Em certo momento, tudo começou a rodar e ele foi perdendo a força. O povo assustou, um menino gritou: O boi caiu!- Foi um corre-corre geral. Tentaram socorrer Enastácio até a chegada de um médico. Infarto! Não tinha mais jeito. A banda silenciou, o povo se entristeceu e uma criança puxava o rabo do boi. “Vamô, boi! Corre atrás da gente!”

No outro dia, Piranga amanheceu com o tempo nublado. E o velório do Enastácio acontecia na humilde sala de sua casa. Parece que está sorrindo, comentava todos que o viam no caixão. Velas acessas, flores e Enastácio imóvel. O seu filho sabia que o último dia do Zé Pereira era o mais importante para o seu pai, portanto a festa não podia acabar naquele velório.

Assim à noite, o povo ouviu uma choradeira descendo a ladeira e a banda apenas tocando um instrumento com um som melancólico. Todos de preto segurando um caixão velho. Era a morte do Zé Pereira. Passaram em frente à casa de Enastácio e fizeram uma parada. Aplaudiram. E um foguete foi aos céus. Enquanto o velório de Enastácio continuava, o velório fictício de Zé Pereira rodava a praça matriz.

www.alexandrelanalins.com.br