A consulta

Outra noite... Outro dia...
Graças a deus... Ave maria!!
Isabel acordou cedo, lamentando a noite mal-dormida.
O dia anterior, nada bom... Fazer o que!? Tem coisas que precisam acontecer.
Dia atribulado, gente falando alto... Corre-corre danado...
Isabel voando solta, nas ruas de pedras e asfalto... Um correr de mansinho... Palavras? Apenas as necessárias... Nada de falação, principalmente da vida alheia... Muito chato, papo - de - salão... Cabelo e unha... Coisa sem afinação.
Consulta marcada, às quatro horas...
Chegou mais cedo, a recepcionista pediu que entrasse... Ficasse à vontade... Teria de esperar um pouco... Que chateação...
Passou uma hora... E nada! Saiu olhou para a sala de espera, uma moça sentada falando que a atendente havia saído... Fora comprar um café... A moça se aproxima pergunta se pode entrar... Isabel diz que sim... A moça começa a falar:
_ Tenho me sentido estranha. Quase não durmo. Parece que o corpo fica em quadrados, rolando pros lados.
Não sei o que está acontecendo comigo... Parece castigo, tem gente que não aprende, só pensa bobagem... Ontem, mesmo, aborreci-me... Um cara idiota parou-me na rua... Perguntou meu telefone... Com olhos de correria.
Vou te contar... Ninguém merece tal abordagem... Cara de doido,  falou de beleza, dos traços que eu tinha... Chamou-me de gata... Chamou-me 'maria'.
E tem mais... Meu filho só dorme, não quer estudar... O marido sai cedo, nem vejo chegar.
Minhas amigas são a salvação... Elas têm mais problemas do que eu... Sabem sair da solidão. Um cara hoje, outro amanhã... E vivem aos cuidados, para ninguém descobrir. Felizes são elas, que sofrem sozinhas...
No trabalho... Sei que você irá perguntar... Está tudo bem, não tenho o que falar... A passagem mais cara... O lanche não chega... O chefe sem tempo... Como viaja o coitado!
Disseram-me que é ... Não sei! Tem jeito de macho. Fala o tempo todo das mulheres que teve... Com o olhar comprido, pro meu decote. Dizem que é...Não sei! Acho que é um pobre coitado.
Meu deus!! Quase seis horas... Tenho o jantar pra fazer, antes tenho de ir à farmácia... Passar no tintureiro... Uma mancha no paletó do meu marido... Hoje tem briga... Estou atrasada. Até logo...
Isabel Olhou para o relógio, foi  à porta... Nada da recepcionista...
Um homem entrou, sentou-se  e começou a falar:
_ Tem horas que parece que vou explodir! Ando irritado, sofro calado... Pensam que sou escravo. Vou te contar um segredo... Minha mulher tem um cara, fiquei sabendo... Uma vizinha... bem intencionada, contou pro marido, que veio correndo falar do assunto. Sei lá se é verdade. Não tô nem aí... O que ela quer é sustento... Já dou, pago tudo... Quero apenas sossego.
Hoje não quero falar com você. Nem sei o que vim fazer aqui. Vou embora! Até.
...

_ Oi, Isabel! Desculpe a demora... Problemas com o carro. Atrasei-me para pegar minha filha na escola. Antes,  passei na farmácia... Dores de cabeça... Você sabe. Minha enxaqueca está me matando. Você viu a Rita? Quando cheguei não havia ninguém na recepção... Vou demiti-la. Assim não dá! ... Vou te falar... Parece que o mundo está virado de ponta-cabeça! Um cara falou, no elevador, que gostaria que ele parasse, apenas para ficar em minha companhia... Tarado! O pobre coitado! Fiquei sem ação, logo cedo, um menino tentou pegar a minha bolsa... Eu acho... Só senti o empurrão... Que dia!!
_ Até logo, doutora!
_ Você está bem Isabel? Precisa de ajuda? Estou aqui para isso, é o meu trabalho.
_ Acho que estou bem... Já ouvi problemas demais... Por hoje.













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