Não cuspa no prato que comeu!

Quando era criança minha querida mãe que era uma italiana simples, mas muito sentimental sempre dizia ou fazia coisas que me marcaram para a vida toda.

Ela morreu vitimada por um câncer quando eu ainda tinha 13 anos de idade e ainda hoje me lembro de certas cenas, algumas alegres, algumas muito tristes mas todas sem dúvida muito cheias de sentimento.

Lembro-me de certa vez que um pedinte passando em casa pediu que lhe desse algum dinheiro, ela rapidamente foi a cozinha pegou alguns pães (pois não era hora de ter comida pronta) depois tirou da bolsa um cruzeiro (não sei mas pelo que conheci dela talvez fosse tudo que tivesse naquele momento) e deu ao pedinte.

Ele fez cara de desagrado, jogou os pães no chão e depois amassou a nota e também a jogou.

Minha mãe olhou primeiro calmamente, depois brava como uma fera e disse na sua língua pátria pois era assim que falava quando chateada, “Dal’uno se vá AL Mille” ou seja de um se chega a mil, abaixou-se pegou os pães e a nota e emendou... “per questto non ai nessuno”, ou seja: por isso não tens nada.

A verdade é que aquele pedinte talvez não tenha entendido as palavras dela, mas tenho certeza que a mim serviu a lição, não se deve desprezar a nota de um real, pois dela se chega a mil, milhão etc

Por outro lado existe a nossa expressão “cuspiu no prato que comeu” que é o fato de uma pessoa saciar-se de algo e depois maldizer aquilo que lhe serviu de alimento pouco antes.

Vejo isso muito nas pessoas, às vezes namora, se casam e depois se odeiam, falam mal um do outro como se tivesse existido nunca o sentimento de amor entre eles.

Eu não sou assim, tive dois relacionamentos de convivência e mesmo não estando com estas duas mulheres não desejo mal a elas pelo contrário desejo-lhes todo o bem possível e sei que se não pudemos continuar foi por circunstancias outras que não a falta de afeto e carinho.

Então mesmo distante no tempo e geograficamente sempre elogiarei suas qualidades e tentarei ao máximo esquecer os defeitos, pois também sempre os tive.

E também em relação a amor e carinho sempre estarão guardadas em meu coração pois a condição de relacionamento pode mudar mas não o sentimento verdadeiro e quando amo, amo realmente ainda que fosse numa relação puramente virtual.

Se um dia amei, amarei sempre estando ou não junto, e nunca cuspirei no prato que comi e nem desprezarei um carinho que tenha recebido por menor que tenha sido.

São José dos Campos, 28/06/2008