É uma pena que não vivi este amor

Sempre reprimi meu tio por ter uma amante, sempre reprimi meu amigo de trabalho também por ter uma amante, e até achava que eu estava no caminho certo, que fazia tudo conforme o figurino de bons modos; ia à igreja aos domingos e na minha concepção era impossível eu ter uma amante. A vida nos prega peças e às vezes nossas concepções caem por terra, o nosso achismo, ou coisa parecida, torna-se um amontoado de besteiras e o pior de tudo é que vezes acreditamos nessas besteiras e até vivemos tais besteiras.

Eu estava andando no Campo de Santana quando há encontrei, ela era morena, de olhos castanhos, não era alta nem muito baixa, seu corpo era parecido de uma modelo, eu a admirava de longe, eu tinha ido naquele lugar para relaxar um pouco, levei o meu violão, minha intenção era de apenas relaxar tocando uma música. Sempre achei aquele lugar muito ligado a música clássica, as árvores, os animais mansos andando perto da gente, aquele lago, tudo está relacionado à tranqüilidade de uma bela música ao som de violão, já era por volta das 16:00h, o calor não era dos piores, me sentei em um banco e comecei a tocar um chorinho, acho que era sonho de carrilhões, e viajei nos acordes daquele chorinho, e não percebi que ela estava bem a minha frente sentada em um banco do outro lado da rua, uns cinco metros de distância, percebi que ela também gostava de choro e quando parei ela aplaudiu, pegou o violão e tocou um brasileirinho um pouco lento, mas muito bem explicado, eu também adorei e aplaudi, ficamos ali umas quatro horas cada um tocando uma música, e nos intervalos criados por nossos desejos de falarmos sobre várias coisas notei que ela era uma pessoa muito especial, falamos sobre composição, arranjos, escolas de música, amor a arte, era um papo bem didático, quando decidi ir embora despedi dela e agradeci por ter tido uma tarde tão agradável, peguei seu telefone e ela me fez prometer que aquele momento teria um repeteco.

Depois de três semanas passadas decidi ir novamente ao Campo de Santana, liguei para ela e falei o horário que eu estaria lá, me atrasei um pouco para chegar, o trânsito na AV. Rio Branco é horrível, mas quando eu cheguei, ela ainda estava lá, sentada no mesmo lugar, desta vez ela tinha trago o violão e quando começamos a tocar foi uma maravilha, nunca tinha sentido tanto prazer em estar com alguém como sentia em estar com ela. Tocamos vários duos, e quando tocamos Romance de amor, que foi uma das primeiras músicas que aprendi, senti que estava pintando um clima, paramos e ficamos olhando um para o outro e em um instante mágico ela a garota mais interessante que já conheci, aproximou-se, acabei beijando-a, foi maravilhoso, e ali mesmo foram beijinhos e abraços sem ter fim, fomos parar em um motel, nos encontramos várias vezes depois daquele dia.

Hoje estou aqui atrás desta máquina escrevendo mais um capítulo da minha vida, um capítulo que deixa saudade, pois não fiquei com ela, infelizmente ela morreu em um acidente de carro, foi participar de uma palestra sobre música em Ouro Preto, MG e o carro perdeu o controle em uma curva. Perdi o amor da minha vida. O que vale meus pré- conceitos agora?