OS TOMBOS EM COPACABANA

 

 

Acabei de levar um tombo em Copacabana! Mais especificamente, em suas famosas e esburacadas calçadas de pedras portuguesas. O pior do tombo em vias públicas é o “mico” que se experimenta.  E, se for mulher e estiver de saia então, .... Nossa! É um constrangimento só.  É como “meter o pé na jaca” na frente de inimigos.
 

Dizem as más línguas, que meu tombo foi “lindo”,  topei, chutei, deslizei, passei a primeira, segurei na direção, voei e cai de quatro.  A sorte é que eu estava trajando uma roupa de ginástica, senão, provavelmente, minha saia viria à cabeça.  Nesses infinitos segundos entre o mau passo no buraco e o tombo, eu só pude pensar: Putz! Vai ser um “mico”!

 

Já no chão e tentando ver o que tinha me acontecido, escutei alguma vozes que diziam: Mais uma no mesmo buraco! Coitada! (essa doeu!) Segura! ... depois uma voz de cavalheiro que dizia: Deixe-me ajudá-la senhora! Ergui minha mão, mas senti que o cavalheiro  me levantava pelos braços, me segurando por trás. Depois uma bondosa velhinha quis desinfetar meu cotovelo, que estava arranhado, com álcool. Ai!...que dor! Mas ela garantiu-me ser para meu próprio bem. Veio então um senhor dizendo ser necessário me apalpar toda para ver se eu havia quebrado algum osso.  Jurei-lhe de pés juntos que eu estava inteira, que ele não precisava se preocupar. Parece não ter acreditado e saiu resmungando qualquer coisa. Logo em seguida me apareceu uma outra bondosa senhora que começou a criticar a sandália que eu usava e a partir daí começou a fazer um discurso sobre a má qualidade dos sapatos, a ganância humana, a vaidade feminina, a economia mundial, o Governo Lula, etc

 

Finalmente me apareceu uma amiga, que muito preocupada comigo, se propôs a me levar em casa de táxi (e eu estava a apenas cinco quarteirões de casa). Disse-lhe que não precisava, que eu estava bem e podia muito bem ir a pé para casa.  Mas foi com ela que comecei a desabafar. Da vergonha, do risco que corremos todos os dias nas calçadas de Copacabana (principalmente os mais idosos), da indiferença da Prefeitura em relação às vias públicas, dos altos impostos, etc. Comentei também que num país civilizado, as calçadas são de responsabilidade dos moradores e, no caso de uma má conservação na calçada, como um buraco ou um desnível, que provoque um acidente ao pedestre, o dono do imóvel em frente à calçada pode ser processado.

 

Aqui no Brasil, não sei se esta lei vigora nestes termos, mas o que mais me preocupa frente a este descaso do responsável pelas calçadas e vias públicas de um modo geral, é que ninguém sabe ao certo a quem se queixar. E como o brasileiro é, na maioria das vezes, “bonzinho”,  aceita esses tropeços  como um “azar” em seu dia-a-dia, e tende a se exigir ainda mais cuidados. Afinal de contas nos acostumamos a ver as mazelas das cidades como coisas “normais” e nos esquecemos que pagamos altos impostos (um dos maiores do mundo) para  termos os serviços públicos atendidos.

 

Antes de sair dali, falei pro dono da lanchonete cuja calçada tinha um buraco:

_ Por que você não manda consertar este buraco na calçada?

E o dono respondeu:

_ Não fui eu quem fiz! E, se tá incomodada, conserte você mesma.

Daí, ainda insisti:

_ Sabia que se fosse nos EUA, eu podia processá-lo?

E escutei essa:

_ Pois vá morar nos EUA, dona! Mas se ficar por aqui não chateie e olhe por onde anda!

Pois é, amigos, this is Brasil!

Marisa Queiroz