O que deixaram de me ensinar

O problema de assistir televisão quando já se está dominado pelas lógicas da Internet é que, como a TV trabalha com fluxo contínuo de tempo, eu só posso assistir a entrevista da filósofa Márcia Tiburi no Jô depois de esperar a fala de um esteticista de cães. Fosse O Programa do Jô um web site, eu poderia ter clicado na fotinho da Márcia e minha vida tava facilitada, meu tempo otimizado. Mas não. Que bom que a entrevista da filósofa gaúcha valeu a noite.

A principal frase dela: “Ensinar filosofia no primeiro grau, como está em lei, é ensinar história da filosofia”. É isso. Assim como a literatura que me ensinaram no segundo grau foi a história da literatura. A própria aula de História não me forneceu ferramentas para entender o mundo a partir de seu conhecimento. Aprendi tão somente a História cronológica, fatos que vinham sem contexto, sem comentários, um após o outro, desvinculados, sendo que minha preocupação era decorar todas as datas, em vez de entendê-la e questioná-las. Resumindo: não me ensinaram a pensar. É verdade que eu não ajudei muito, mas querer que com 15 anos eu chegasse à sala de aula e perguntasse pra professora porque os israelenses odeiam os palestinos, ou porque nós não odiamos os portugueses, é exigir demais de alguém recém acordado e que sequer lavou o rosto na pia pra ficar ligado.

Conhecer a História só é interessante se a partir dela obtivermos respostas para questões pertinentes à realidade atual, ou gerarmos indagações que projete, alguma crítica sobre o mundo, seja pela biologia, filosofia, literatura, o que for. Não sendo assim, todo mundo sai da escola assim como eu. Sem saber direito como pensar, tendo que aprender depois de velho.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 01/07/2008
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