Questão de bom senso

Jovens bem nascidos, eles eram unha e carne. Juntos, deram os primeiros passos, aprenderam as primeiras palavras, estudaram nas mesmas escolas. Os diferentes cursos na universidade não impediram a continuidade de amizade tão intensa.

João, Zé Antônio e Praxedes se deram bem na vida e tornaram-se homens riquíssimos. Os três sempre gostaram de farra e, todos os meses, saíam para fazer “uma pescaria” - entre aspas mesmo, pois os únicos peixes que eles pescavam eram piranhas contratadas para as orgias.

O tempo é inexorável. Os amigos envelheceram e a disposição para farras desaparecia com o passar dos janeiros.

De vez em quando - por pura teimosia e para não dar o braço a torcer - eles simulavam retomar os prazeres de outrora. As sacolas que antes carregavam bebidas de primeira qualidade abrigavam, agora, remédios para memória, pomadas para hemorróidas, vitaminas de A a Z, corticóides para reumatismo e outras drogas que controlavam os males trazidos pela velhice.

No dia em que João completou oitenta anos, os amigos tentaram mais uma dessas simulações de farra. Admitiram que seus físicos não permitiam tais estripulias e decidiram adquirir um imóvel para, nele, abrigar as periguetes: suas namoradinhas.

Compraram confortável casa em bairro discreto, equiparam-na com o que há de melhor e mais moderno, contrataram caseiro e empregadas para mantê-la e, lá, instalaram Keyla, Kelly e Kathyanne – raparigas que beiravam os vinte anos.

Três meses depois, o aniversário de Zé Antônio era comemorado no casarão. Lá estavam os três amigos - entre remédios, cochilos, peidos e tosses - aboletados nas confortáveis poltronas da sala e sob os olhares das impacientes meninas.

Quando o relógio marcava dez horas da noite, Praxedes – o mais lúcido dos três – bocejou, bateu levemente nas pernas dos amigos e falou:

- Compadres, a coisa não anda boa e eu vejo que as meninas não estão gostando nadinha da vida que estão levando aqui. O negócio é o seguinte: ou a gente arruma uns namorados pra animar a vida delas, ou elas vão endoidar...

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 02/07/2008
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