S.U.S

A proposta de inclusão do SUS é defensável pela sociedade, mas ele ainda está a oferecer uma saúde de ruim teor. É um sistema desprotegido pelo Tesouro Nacional e não se pode dizer hoje que ele seja auto – suficiente enquanto modelo de saúde. Possui falhas e, ao meu ver, tudo isso poderia ser bem diferente se os governos passados e o presente tivessem investido nele os reais que são, além de necessários, obrigatórios.

As filas de pacientes pobres que invadem as madrugadas à espera por um atendimento custoso são uma realidade palpável. Compra de lugares, profissionais vendendo o que devia ser feito gratuitamente, enquanto outros, do atendente ao médico, do gestor ao paciente paupérrimo, desfazendo, ao invés de estarem todos engajados em fazer crescer e maturar um modelo de saúde exemplar para a sociedade.

O SUS pode até ter sido criado como um modelo respeitável de provimento à saúde à população, mas hoje passa por uma fase crítica, onde se vêem servindo a ele profissionais muito mal pagos, a trabalharem insatisfeitos – o que por si só já gera ruins frutos. É o faz de conta que eu te pago e você faz de conta que trabalha. Essa é a pior efetivação de relacionamento patrão – empregado, fomentado pelo SUS. Se a tabela de procedimentos está defasada por uma década, qual o sustentáculo ético em mantê-lo?

O governo repassa um orçamento pequeno demais ao Ministério da Saúde que, por sua vez, não pode operar milagres e apenas continua administrando um caos que, o que é pior, não é reconhecido assim como tal pelo governo. Acha que está tudo andando às mil maravilhas. Faltam remédios, médicos e investimento obrigatórios à saúde do povo brasileiro. O SUS, como hoje está, deixa de ser o projeto espetaculoso das esperanças governamentais de ontem para ser o caos de hoje. Não há saneamento básico, em virtude disso as doenças mais comuns se alastram e o povo doente não é adequadamente atendido. Com esse serviço todo quem se alegra mesmo é a morte que não cansa de operacionalizar o seu tétrico ofício.

Enquanto os profissionais de saúde não ganharem o equivalente ao que ganham hoje um juiz de direito, um desembargador, eles não poderão ser jamais cobrados por muita coisa diferente do que é feito hoje. Um médico recebe dois mil reais de salário e tem que trabalhar seis horas, enquanto um engravatado qualquer, sem quase nada para fazer, em um gabinete público, recebe dez vezes mais. O que se poderia esperar de um profissional desse? Trabalhamos com vidas humanas. Nosso estresse é muito grande. A concorrência é cruel. Faltam-nos o trabalho digno, o salário justo, o reconhecimento de que somos um dos profissionais mais importantes dentro de uma sociedade. Um médico doente inda vai trabalhar. Uma autoridade governamental será que faz o mesmo?