Baterei continência eternamente

Este militar, ao qual me refiro, merece realmente a minha, a sua e a nossa admiração. Para ele baterei continência eternamente. Foi um dos homens mais extraordinários que nosso país conheceu. Domesticou índios. Delimitou fronteiras. Chefiou a instalação de 3.200 quilômetros de linhas telegráficas em regiões ainda impenetráveis. Além disso, criou o Serviço de Proteção aos Índios, fazendo promulgar várias leis dando garantias aos índios contra possível exploração e usurpação de suas terras. Claro, como ficou evidenciado, estou me referindo sobre a figura magnânima de Cândido Mariano da Silva Rondon ou simplesmente, Marechal Rondon, como ficara conhecido em todo o mundo. Recentemente o Senado rendeu-lhe justíssima homenagem nos seguintes termos:

“PROJETO DE LEI DO SENADO

Nº , DE 2007

Inscreve o nome de Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, no Livro dos Heróis da Pátria.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º Será inscrito o nome de Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Parágrafo único. O disposto neste artigo dar-se-á em 19 de janeiro de 2008, data do cinqüentenário da morte do Marechal Rondon.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

“JUSTIFICAÇÃO

O objetivo desta proposição é manter viva, através de um justo reconhecimento, a memória do herói brasileiro e grande humanista Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon.

O Marechal Rondon faleceu em 1958, aos 92 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, longe dos campos de Mimoso, na sesmaria de Monte Redondo, no Mato Grosso, onde o menino Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu, em 5 de maio de 1865.

Descendente de índios, não negava suas origens nem na tez nem nos traços firmes do rosto severo, mas de olhar suave e penetrante. Da sua vertente paterna recebeu sangue de portugueses e espanhóis, também de índios Guaná; da materna, sangue de índios Terena e Bororo. Nele, tudo se somou, nada se perdeu. Talvez por isso, acabou trilhando caminhos que o fizeram se tornar um dos mais importantes pacificadores de tribos indígenas do interior do Brasil e construir as primeiras pontes entre estes e os descendentes de europeus que aqui se instalaram.

Ainda jovem, Rondon concluiu com distinção o curso secundário e se revelou um fora-de-série em matemática. Mas sem perspectivas de avançar em estudos universitários em Cuiabá, Rondon ambicionou continuar os estudos no Rio de Janeiro. Para um menino pobre de sua época, só duas saídas eram possíveis: Escola Militar ou o Seminário. Rondon fez a primeira opção.

Assim, aos 24 anos, tornado alferes, o jovem Cândido Rondon auxiliou Benjamim Constant a implantar o regime republicano. E no ano seguinte, em 1890, graduou-se bacharel em Ciências Físicas e Naturais e foi promovido a tenente.

Não demorou muito e recebeu convite para participar de um dos mais árduos serviços do Exército da virada do século, que era a construção de linhas telegráficas pelo interior do Brasil. Empreendedor e desbravador, não hesitou em abandonar a sua promissora carreira de magistério. Passou, então, com a sua tropa, a abrir picadas, a abater árvores, a levantar postes, a instalar fios atravessando as matas de Goiás até seu Mato Grosso natal.

A grandeza de Rondon foi ser sempre rigoroso na aplicação da sua máxima: "Morrer, se for preciso; matar nunca!". Dezenas de oficiais e mais de centena e meia de soldados e trabalhadores civis foram mortos porque desistiram de matar. Neles, a força de uma idéia suplantou o instinto de conservação.

Rondon compreendeu, como poucos o fizeram até hoje, que os índios brasileiros são homens vivendo no neolítico, mas são homens e, como todos os seres humanos, ambicionam viver melhor.

Adotava a estratégia de aproximação com os índios deixando ferramentas de metal à disposição -- facas, facões, cunhas, alavancas, anzóis, tesouras, machados e machetes -- como chamariz para que os índios se decidissem à caminhada da pré-história à civilização. Quando cercado e atacado, Rondon deixava os presentes numa clareira e tratava de recuar com a sua tropa. Sinal evidente de que desejava a paz e, no dia seguinte, tornava. Uma, duas, três vezes, as que fossem necessárias até que os índios se dispusessem à conversa.

Não foi fácil a Rondon empreender sua tarefa de integração entre índios e brancos. Por essa razão, Rondon exigia que cada tribo pacificada ficasse sob a proteção do Exército e, depois, sob a proteção do Estado.

Demarcou cada território tribal e tentou registrá-lo como propriedade coletiva da tribo. E tratou de garantir-lhes o direito de viver suas próprias vidas, de professar suas próprias crenças e de evoluir segundo o ritmo que fossem capazes de alcançar, sem nunca estarem sujeitos a qualquer açoite ideológico.

Rondon pacificou muitas tribos: os Bororo, Caiamo, Guaicuru, Uachiri, Cavaleiros, Ofaié, Terena, Quinquinau, Paresi, Kaingáng, Xokleng, Botocudo, Umutina, Nambikuára, Tirió, Pianocoti, Kepkiriwát, Parnawát, Urumi, Arikén, Rama-Rama, Urubu, Parintintim e, por último, os Xavante, em 1946. Foram mais de 57 anos dedicados à defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil.

A construção de linhas telegráficas foi o motivo primeiro para as entradas de Rondon pelos sertões brasileiros. Inúmeras expedições permitiram ao Marechal Rondon instalar, já em 1891, 1.574 quilômetros de linhas telegráficas, que alcançaram cerca de 7 mil ao final de sua longa vida de desbravador.

Em cada expedição, Rondon levava, além da tropa, duas equipes: uma, a dos construtores das linhas telegráficas; outra, a de cientistas: geólogos, botânicos, zoólogos, etnógrafos, lingüistas.

Geógrafo era o próprio Rondon, que fez o levantamento de milhares de quilômetros lineares de terras e águas, determinou as coordenadas (longitude e latitude) de mais de 200 localidades, inscreveu no mapa do Brasil 12 rios, até então desconhecidos, e corrigiu erros grosseiros sobre o curso de outros tantos. Os cientistas das suas equipes recolheram mais de 3 mil artefatos indígenas, mais de 8 mil espécimes da flora, mais de 5 mil espécimes da fauna e um número indizível de amostras minerais. A maior contribuição de sempre para o Museu Nacional.

Com 90 anos, em 1956, o Congresso Nacional o promoveu a Marechal e, em sua homenagem, deu o nome de Rondônia ao Território do Guaporé, por iniciativa do então Deputado Áureo Mello.

Nessa época, o seu auxiliar, General Jaguaribe de Matos, já havia estimado que ele tinha percorrido o equivalente ao perímetro da Terra. Ou seja, mais ou menos 40 mil quilômetros. Dentro do Brasil, deu uma volta ao mundo.

Rondon foi o último dos grandes exploradores do nosso planeta.

Estas são as razões para que o exemplo máximo de amor ao Brasil e por sua gente, do Marechal Cândido Rondon, fique para sempre registrado no Livro dos Heróis da Pátria, como um exemplo de integração e harmonia entre culturas e civilizações na construção da brasilidade.

Sala das Sessões,

Senador EXPEDITO JÚNIOR

PODER LEGISLATIVO

SENADO FEDERAL

Gabinete do Senador EXPEDITO JÚNIOR

PODER LEGISLATIVO

SENADO FEDERAL

Gabinete do Senador EXPEDITO JÚNIOR"

Termino este texto relembrando a máxima utilizada por este grande brasileiro, um dos maiores deste país: “Morrer se preciso for, matar nunca".

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 08/07/2008
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T1071548
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