OS CARAS DE PAU

“Uns vêm a passeio, outros a serviço”. Os que vieram a passeio, gastam seu tempo elaborando planos para explorar cada vez mais os que vieram a serviço. Assim é a vida nos dias de hoje: a cara-de-pau grassa à solta, impunemente.

Os que vieram a passeio, estão sempre risonhos, sempre disponíveis, sempre abertos a novas amizades e a novos relacionamentos. Estão sempre planejando uma viagem, uma festa, um churrasco; mas, é claro, sempre às custas de um vizinho, sempre na casa dum parente, sempre na chácara de um amigo.

Os que vieram a passeio, estão presentes em todos os aniversários, em todos os velórios, em todos os casamentos, em todas as festas de praça, em todos os comícios políticos, congressos, exposições, noites de autógrafos, festas de peão, feiras e shows.

Os que vieram a passeio, estão sempre presentes nos botecos, papeando, comendo e bebendo as custas dos amigos.

E os que vieram a serviço?

Ah, esses?

Nem sei por onde andam!

Ninguém nunca os vê. Ninguém sabe deles. São uns pobres coitados! Chegam suados e fedidos em casa, desabam no sofá e babam; não sem antes preparar cuidadosamente o relógio despertador para que não corram o risco do vexame de se atrasarem para o trabalho no dia seguinte.

E nos finais de semana? Bem, nos finais de semana, eles têm que limpar a casa, abastecer a despensa lavar e passar a roupa suja, tosar e banhar o cachorro, cuidar de suas plantas que estão quase mortas, dizer um rápido alô aos vizinhos, para que saibam que ainda estão vivos.

Depois? Ah, depois, eles têm que descansar um pouco, que ninguém é de ferro! Precisam esticar-se na horizontal, curtir o silêncio ao redor, dormir um pouco para esquecer que vieram a serviço. Estão cansados demais para saírem e espairecer.

As salas dos psiquiatras, psicólogos e psicoterapeutas estão cheias destes, que vieram a serviço.

Sabe por quê?

Porque não vieram a serviço por opção. Estão a serviço, o tempo todo, por falta de opção. Estão a serviço, porque os que vieram a passeio não estão fazendo a sua parte; infernizam suas vidas com a sobrecarga de trabalho. Sufocam seus corações e mentes, tiram seu lazer, não lhes deixam tempo para pensar, para orar ou para aliviar sua carga.

Os que vieram a passeio assim fazem para que os que vieram a serviço não ousem pôr as cabecinhas para fora do buraco. Afinal, quem eles pensam que são? Gente?

Rita Velosa
Enviado por Rita Velosa em 09/07/2008
Código do texto: T1073030
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