Perseguindo barrigas tanquinhos e panturrilhas.

Ai que me dói aqui um quadril revoltado por um nervo ciático muito inconveniente. Amanheci com os sinais claros da minha idade, somados ao sedentarismo e ao excesso de peso. Sempre preferi cadeira, cerveja e cigarro à malhação.

E vejam, acho malhação uma coisa importante, e muito poética até; aquela esforçada corrida rumo a objetivos maiores que sentar ao sol com uma cerveja, um cigarro, um prato de tira-gosto e um livro massa; acho lindo e importante, repito, ver as pessoas fazendo aquele esforço todo, deixando de comer coisas gostosas em troca de uma saladinha (eca!), mergulhados naquela suadeira profusa, naquela perseguição ao objetivo de uma barriga de tanquinho e àquelas coxas esculpidas em pedra.

Só nunca deu pra mim isso e nem acho que vá começar a dar agora. Se eu for forçada a fazer fisioterapia, farei. Não costumo teimar com médicos, acho tolice, mas farei sob protestos, de cara feia, muito abusada.

Acho que não tenho jeito mesmo! Sou uma criatura desmotivada para os exercícios, não sou vaidosa e tenho um marido que ama as gorduchas.

E logo eu, que acho muito interessante as pessoas que perseguem um objetivo, mesmo que seja um tão improvável como não envelhecer.

Ai já é outra conversa, me avisa o T-REX, que acordou agora.

Pois é. É muito interessante o fenômeno do não aceitar a velhice. De ter mesmo horror a esse termo, inventando outros como "terceira ou melhor idade".

Velhice não é sinônimo de decrepitude, conheço criaturas decrépitas aos vinte anos por que abusam do álcool e das drogas, perdidos na auto comiseração e com a mente confusa.

Velhice não é sinônimo de incapacidade, conheço incapazes de todas as idades, que não usam a experiência como instrumento de evolução, que não tem compromisso com o futuro, que atrapalham a vida alheia e não servem para nada.

Velhice não é sinônimo de fim, por que eu conheço gente de dezoito e vinte anos que está no fim, por que pararam de pensar, de agir e de caminhar em busca de objetivos reais.

Estou achando ótimo envelhecer, tenho adquirido experiência, tenho testado meus limites, tenho revisto opiniões e preconceitos. Aos poucos a ânsia, a voracidade e a falta de objetividade vai dando lugar ao tranquilo caminho dos que sabem para onde estão indo. Ou seja, botei pra correr o gato de Alice no pais das maravilhas. Agora eu eu para onde vou e, o melhor, como vou chegar.

Não vou fazer plástica, nem malhar (que me perdoem os adeptos, mas eu digo: eca!), venho repensando minha alimentação até pelo fato de que meu paladar se apurou muito nestes anos e, hoje, eu como pouco e bem.

Minha vida, que não serve de exemplo para ninguém, está deixando de ser uma montanha russa para ser um lago de pedalinhos, onde cisnes trocam juras e onde o sol coloca na água o brilho acetinado dos fins de tarde. A troca é justa e me parece bem.

O T-REX concorda e afirma que adora pedalinhos...esse Tiranossauro... eu, hein?