O CANDIDATO

A falta de preparo dos candidatos, e não estou aqui tratando de candidatos de pequenas cidades do interior, fica evidente quando o discurso é completamente desprovido de conteúdo.

Marcus Klassman foi vereador em Porto Alegre e foi o último político cassado pela ditadura militar no Brasil. Tive o privilégio de longos diálogos com o Marcão. Experiente, disse certa vez: - O discurso deve ser consistente no conteúdo e ligth nos adjetivos.

Só para quem não lembra, adjetivos são as palavras que caracterizam um substantivo atribuindo-lhe qualidade, estado ou modo de ser.

O país vive um momento de turbulência. A corrupção chega aos lares como se generalizada, impune e irrestrita. Uma epidemia de uma doença contagiosa. Sabemos que não é bem assim. Uma professora, em muitas escolas do país, se puder e quiser, no máximo poderá roubar um giz.

A ocasião faz o ladrão, diz o ditado popular, e a sociedade se encaminha para mais um pleito com esta idéia pré-concebida, o que torna a escolha desprovida de maiores responsabilidades. Afinal, se todo mundo é farinha do mesmo saco, tanto faz.

Um dos fatores que torna frágil a democracia brasileira é o fato de que não mais de cinco pessoas, talvez dez, definem, numa cidade, os candidatos em quem o povo poderá votar. Pessoas de boa índole, quando sabem o que podem passar num cargo de prefeito, raramente querem ser candidatos. Muitas sabem.

Têm certas coisas que não são para muitos. Ser prefeito da sua cidade. Ter consciência da importância que se pode ter na construção de um mundo melhor. Vibrar com cada feito, com cada realização, com cada evolução. Assumir um compromisso com a sociedade e encerrar o trabalho com o dever cumprido. São algumas das coisas impagáveis que justificam os riscos.

Outra abordagem, o prefeito é fiscalizado por conselheiros municipais, vereadores, promotores, procuradores, conselheiros, auditores, juízes, têm também de prestar as mesmas contas a Bancos, Controladorias, Secretarias Estaduais, Ministérios e Entidades existentes no Município. Será o primeiro responsável por todos os erros de todos os servidores. Qualquer um pode dizer dele tudo que tiver vontade numa emissora de rádio, o jornal pode publicar qualquer suspeita a seu respeito e a televisão não vai dar trégua se desconfiar de um problema, mas vai dar muito pouco espaço para os sucessos. A polícia federal pode algemar para interrogatório, não é problema de figurão, é moda.

Vejam só o que tem de gente ganhando dinheiro (e muito) para fiscalizar um prefeito. Certamente o prefeito não conseguiria roubar, por mais ladrão que seja, o que a sociedade paga com fiscais para evitar que ele roube.

Qualquer processo que fizer contra um caluniador, o juiz determinará, após longo processo, que este pague uma cesta básica para uma instituição de caridade. Os filhos vão ouvir todas e mais algumas.

Assim, com candidatos que, eleitos, estarão expostos à execração pública (e também ao aplauso e às luzes), ao denuncismo, aos processos (que terá de se defender as suas custas) e ao desamparo do Judiciário (que resolve uma pendenga em uma década, no mínimo), o país espera que boas pessoas assumam cargos relevantes.

Dizia o candidato, logo depois de proclamado vencedor:

- Agora, é com nós!