Sobre Presentes



Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular ?
Que presente te dar?
                                     Affonso Romano de Sant’Anna



Inicio citando uma frase bem clichê, quando se trata do ato de presentear:
- Adoro ganhar presentes!
Sim, adoro, não pelo valor do objeto, visto que, por vezes, muitos dos que ganho são simbólicos, imateriais, mas pelo gesto, pela alegria de ser lembrada.
Receber um presente pressupõe-se que alguém pensou em você, em algum momento. Pensou no seu gosto, na sua personalidade e, quem sabe, na sua necessidade. Pensou até, dependendo do tipo de relação que exista entre quem presenteia e é presenteado, que se cumpriu com alguma “obrigação”.
Presentes contam histórias. Trazem consigo a energia de quem os escolheu. Acredito que os que recebo, os meus, são, além de energizados, abençoados, trazem consigo o afeto, o carinho de quem os presenteou. Os objetos até se desfazem, se perdem no tempo mas, sua lembrança, sua energia, estas marcam, para sempre, meu coração e minha alma. Por isso, acredito que a minha volta, há sempre uma aura de amor que me ilumina, me protege.
É comum em ambientes de trabalho, o presente e a comemoração coletiva. Participo, mas, pessoalmente, não adoto tais iniciativas. Reconheço sua praticidade, sua importância para o bom convívio dos grupos, contudo nada substitui a emoção da comemoração e do presente “exclusivo”.
Aniversariei um mês atrás e, já há algum tempo, criei o hábito de, na data, ficar em casa para receber quem lembrar de aparecer. Não faço festa, porém, durante todo o dia e parte da noite, acontece algo que gosto muito: chamo carinhosamente de “Romaria do abraço a Edna” e este é sem sombra de dúvida, meu melhor presente: celebrar a vida! A minha volta, o som das risadas, o encontro, o reencontro dos que se tornaram e se tornam amigos através desses momentos. A minha volta, encantadoras histórias de vida.
E meu dia se ilumina! Adoro recebê-los (as), abraçá-los (as). Que se sentem à minha mesa, compartilhem da minha alegria, da minha vida! Aos que não aparecem, mas telefonam, mandam e-mails, scraps, o carinho com que os recebo é também imenso.
Mas há um tipo de presente muito especial. Pessoas. Esses são impagáveis. Pego emprestadas as palavras de Ana Jácomo, (http://anajacomo.blogspot.com) que destaca em um de seus textos: "Tem gente que entra na nossa vida de forma providencial e se encaixa naquela história que gosto de imaginar: surpresas que Deus embrulha pra presente e nos envia no anonimato. Surpresas que só sabemos de onde vêm porque chegam com o cheiro dele no papel." (Do texto "Preciosidade" ). Encontro-me nas letras de Ana, meu sentimento é exatamente igual. Há pessoas em minha vida que são raros presentes. E, ao final da “romaria”, relembrando quem passou, só posso agradecer a felicidade de ter amigos assim.
E encontro-me na linda crônica de Affonso Romano de Sant’Anna (na epígrafe), pois adoro presentear, também. Embora minhas escolhas quase sempre recaiam em livros, em discos, em artefatos da arte, em geral, abro mão para os enfeites, quando me parece que foi feito “sob medida” para “aquela” pessoa.Raramente penso em utilidades , mas também entram em minha lista. E pode ser esquisitice, mas guardo comigo alguns presentes que nunca dei, talvez nunca darei. Mas, no momento de comprá-los, a pessoa em questão ocupou meu pensamento, foi alvo da minha atenção e carinho.Quem sabe um dia?
Há outro tipo de presente que ainda destaco: os “presentes-palavras”. Quando ganhei meu primeiro poema (copiado numa folha de caderno, sem autoria) menina ainda, me senti um ser especial, capaz de despertar sentimentos também especiais. Esta maravilhosa sensação me acompanha até hoje e me acompanhará, para sempre. E, sem nenhuma presunção de minha parte, me sentir capaz de fazer brotar bons sentimentos, me faz melhor, mantém em mim acesa a chama da esperança, da luta por um mundo mais humanizado e fraterno.
Dou-me conta que “presentes-palavras” podem e devem ser partilhados. Vou fazer uso desse CANTINHO para, na medida do possível, ir postando aqui, alguns que recebi e que estão guardados, carinhosamente, no meu BAÚ de afetos.
Começo por este aqui, que achei amassadinho entre as páginas de uma antiga agenda.

POEMA PARA EDNA

Na verdade todos gostam
De poemas, de amores, só precisa abrir
As portas
Deixar entrar,
Como o vento.
Poemas todos têm cores,
Têm sabores, dissabores...
São presentes
Que presentes...
Ou escreves no diário...
Esse é abraço festivo, sem matéria, flexível
Ancorado no infinito,
De um FELIZ ANIVERSÁRIO!

Presente-palavra da poetisa amiga, companheira de trabalho, Ana Cláudia Laurindo.

Maceió. 13 de junho de 2005
Querida Ana Cláudia, um beijo. Saudades.