VAZIO

Vazio é nada e nada não existe, e no entanto do nada tudo se pode construir.

Dai-me um ponto de apoio e eu levantarei o mundo(cito). Mas eu não tenho ferramenta, senão este vazio do monitor inquieto cintilando de ansiedade e eu palpitando de angustia.

Deus criou do nada.

Arquimedes só pedia um ponto de apoio. Tinha a alavanca e eu que tenho? Só este vazio do título e este vazio do meu estro, oco, inerte e pasmado.

Nem uma letra, nem uma palavra me surgia ao espírito.

Porque me meti neste Recanto das Letras, onde me sinto encolhido no Canto Zero do Recanto desta Odisseia?

Que ninguém me leia, que ninguém me escute, porque nada é o que penso agora e o que escrevo.

Peguei em letras compus palavras e bordei um pano no painel próprio do Recanto das Letras, e quando aplicava no remate uma chave de ouro a meu gosto; - eis o desgosto.

Como um balão de encanto na mão do bebé, talvez uma quântica razão ou um erro meu, má fortuna, pifou meu texto, e eu fiquei vazio como o painel.

Não chorei de susto e de desgosto como a criança, talvez porque tudo aconteceu em silêncio brando, mas ainda assim gostava nesse momento de ser de novo criança para poder desatar em pranto e soluçar sentido com a fuga dos bytes.

Se o fizesse não me acudiria a mamã, mas a mulher que poderia supor uma tragédia. Mas foi.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 15/07/2008
Código do texto: T1082039
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.