Piranga e as bicicletas voadoras: aventura sem fim

Era o ano de 1989, ano em que a democracia brasileira voltava com fé e esperança. Ano em que os brasileiros votariam no presidente do Brasil, depois de anos de ditadura. Como era importante aquele ano. Mas a importância para mim era outra. E, talvez, até mais doce. Era o ano da infância, das amizades e foi o ano que morei em Piranga.

Naquele ano, eu estudei na Escola Coronel José Ildefonso e lá encontrei meus grandes amigos de infância e início de juventude. E foi nessa escola que conheci professores que me entusiasmaram nesta vida de escritor e jornalista. Lembro-me de Dona Ilza, professora de Português, que ensinava-nos os verbos e pediam-nos que os conjugassem em pé,na frente dos colegas. Parecia um palco de teatro, no qual dizíamos os verbos com tamanha perfeição, que parecíamos artistas. Foi a professora Ilza que me incentivou a escrever um diário e o transformei em inspiração para escrever minhas histórias. E a matemática? Nunca foi tão fácil entendê-la com a professora Elza. Lembro-me, também, das professoras Sãozinha, Rita e Tia Lalada ( que dava aula de Ed.física).

Depois das aulas, os amigos se reuniam na praça matriz com suas bicicletas ferozes. As aulas terminavam as 4 e meia da tarde e as seis da tarde já estávamos com nossas “motos”. Era um grupo de meninos que “voavam” pela cidade. Sentindo o cheiro de mato, sentindo o vento no rosto, vendo o sol se pôr. Piranga sentia os tremores das bicicletas e os nossos sorrisos. Analdo, Waguinho, Gildim, Lucimar, Antônio Mendes, Willian... Amigos de escola, de rua e de aventura. Descobríamos, também, como era gostoso gostar de alguém. As meninas sorridentes e alegres enchiam os nossos olhares: Geovana, Aline, Daniele,Rosana, Fernanda... Os amores platônicos que se transformaram em amizades.

Mas eram as bicicletas “ferozes” que nos faziam mergulhar no mundo de aventura que Piranga nos proporcionava. A praça matriz, a Praça do Rosário com sua linda igreja, a Rua Nova, o Rio Piranga, o cemitério, Rua do Rosário, a Rua Quebec... Invadíamos cada canto da cidade com as bicicletas voadoras e com as buzinas de plástico... É, aquela que dava aquele som: “fim-fom”.

Parávamos na praça da igreja matriz e comprávamos chicletes e chocolates. Colecionávamos as figurinhas e trocávamos as repetidas. As bolinhas de gude no chão da praça e a bola de futebol no campo do clube.

A noite, completamente exauridos, voltávamos para casa orgulhosos. Afinal, o dia foi longo e aproveitamos cada canto de Piranga e cada momento de nossas infâncias. Aos amigos e professores que não citei o nome, digo-lhes que estão na minha memória e no meu coração. Lembro-os de cada um... Como se fosse ontem e não quase vinte anos.

O ano de 1989 sempre será aquele ano que nunca terá igual. Um ano especial. Que se fosse um filme ganharia vários prêmios, que se fosse um livro viraria um Best-Seller. Que se fosse para voltar, que voltasse como foi. Sem tirar e nem por. Obrigado, Piranga! Obrigado, meus amigos! Obrigado meus pais por ter me proporcionado um ano lúdico e surreal.

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