Apenas crianças ?!

Relato de uma professora da quinta série do agora chamado ensino fundamental:

<<Ele já tem quinze anos completos, quando a idade normal para a quinta série é a de onze anos. Frequentemente aparece na sala com os olhos vermelhos, e está envolvido com vários maus elementos da redondeza pobre dessa escola.

No começo, não causava problemas, apenas não fazia nada, não escrevia, não desenhava e nem lia, apenas conversava e dormia na carteira.

De uns tempos para cá, começou a piorar bastante, às vezes dava para ver a faca em sua cintura, brigava todos os dias com os outros alunos, ameaçava todos; e no primeiro dia em que fui convidá-lo a se retirar da classe, ele me enfrentou e disse que se quisesse que ele saísse, para encontrar alguém na escola que tivesse coragem de tirá-lo lá de dentro, pegou uma cadeira e arremesou na minha mesa, quebrando-a ao meio.

Noutro dia, desmontou a tomada com uma faquinha e provocou um curto-circuito que quase fez com que a cortina pegasse fogo, todos ficaram assustados, depois, soltou uma bomba poderosíssima, que arrancou vários azulejos da parede do banheiro da escola, por sorte não entrou ninguém, pois ele colocou um cigarro no pavio que queimou lentamente (assim disseram seus colegas de classe) enquanto ele voltou para a classe com aquela cara de inocente.

Às vezes passa todas as aulas conversando no telefone celular, e outros alunos dizem que ele conversa inclusive com pessoas que estão presas, e que por vezes, faz favores e presta pequenos trabalhos para esses presidiários, proferindo as gírias características do sistema carcerário.

Numa semana, peguei ele fumando maconha dentro da sala e chamei a polícia, no outro dia, meu carro apareceu todo riscado, e na porta pude ler a mensagem: "Vou te matar", e no capô, "Vida Lôca", o carro vai ter que ser reformado, não deixou nenhuma parte sem riscar com um ferro que ele deixou alí, caído pertinho, sei que foi ele, pois ele ri da minha cara na sala de aula.

Tenho medo, pois tenho filhos pequenos que estão na pré-escola, e ele pode querer se vingar de mim, fazendo "Deus sabe o quê" com meus filhos...não quero mais lecionar, estou com medo e assustada. Parece que não tem ninguém para me ajudar. Meu marido já está andando armado também, pois soube que esse "menino" é barra pesada e é capaz de qualquer coisa para ser respeitado pelos outros de sua idade, sobre os quais tem influência.

Estou decepcionada com o magistério, e o meu salário é tão baixo que não compensa tanto risco.>>

Então eu pergunto: São apenas crianças? Devemos tentar ajudá-las? A FEBEM (ops, esqueci que a FEBEM passou a ser chamada Fundação Casa) não educa e nem melhora ninguém, ao contrário, forma futuros integrantes do PCC.

No caso de uma expulsão, este aluno com certeza há de se vingar no professor ou diretor da escola, e não no Governo e seu sistema educacional deficiente.

Será que aumentar a maioridade penal adiantaria? Acho que não, ao invés de ser influenciado pelos menores infratores, desculpe, agora são chamados "menores cometedores de ato infracional" da Febem, desculpem, Fundação Casa, seria influenciado diretamente por presidiários já experientes e que sabem moldar os pensamentos de alguém tão jovem, praticamente iniciante no mundo do crime.

É um perigo. A escola pública está decadente e terei que trabalhar feito um asno para conseguir pagar uma escola particular, pois certamente não vou querer meu filho tão próximo de más companhias.

É um caminho sem volta, podem me achar excessivamente pessimista, mas tenho certeza de que essa situação não irá melhorar.

Na minha época de estudante do ensino primário e médio, geralmente as escolas públicas eram tidas como exemplares, e a escola particular era a famosa "pagou-passou". Hoje inverteram-se os papéis, pois o capitalismo, com seus braços grandes abraçou até a educação das crianças.

Quanto aos professores, coitados, deviam receber um "adicional periculosidade", pois para um aluno entrar com um revólver ou faca dentro da sala de aula e matar alguém, é questão de dia ou momento, ou a derrota ou vitória do time para o qual se torce. A coisa banalizou.

Não se pode exterminar, pois voltaríamos ao tempo de Herodes, nem discriminar pela "cara" do indivíduo, pois as idéias de Lombroso, comprovadamente estão ultrapassadas.

Deve-se fazer um trabalho, semelhante ao futebol, fazer um trabalho de base e se puder ver que a família não vai conseguir criar direito, dar educação, e manter a criança longe do crime e das drogas, o Governo, ou outras associações ou ONG´s deveriam pegar essa criança e dar educação exemplar, muito melhor do que as escolas particulares, com ensinamento de várias línguas e várias disciplinas, que foram enterradas, "porquê não sei qual o motivo", como Educação Moral e Cívica, OSPB (Organização Social e Política Brasileira), Filosofia, Sociologia, etc...e mostrar para esses futuros homens e mulheres, a verdadeira razão deles estarem ali, e como é realmente o mundo que os espera lá fora.

Às vezes, chego a acreditar que realmente o Governo quer que sejamos um bando de analfabetos...que não conseguem contestar nada do que é resolvido entre eles e que escolhem seus representantes pela cor da bandeira ou pelos símbolo que é utilizado.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 18/07/2008
Reeditado em 21/07/2008
Código do texto: T1086362
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