SEXO

Na televisão, quando ele se insinua, os que estão na sala tentam se esconder dos outros ao seu redor como o diabo da cruz! Ele é uma barata, um avião? Não. Tido como um palavrão ou um monstro assustador, o sexo é polêmico acima de tudo. Fato curioso, afinal, é algo que deveria ser natural no sentido de normalidade tanto quanto é no sentido biológico. Mas, sem dúvida, carrega uma aura ruim e pesada que a moral humana o revestiu.

As mulheres têm se livrado dos seus grilhões ao longo da história, mas a abolição da repressão sexual não é completa. Isso é fácil notar quando, por exemplo, do menino os pais e amigos esperam namoradas (assim, no plural), enquanto das meninas no máximo um namorado. Mas, seria um erro terrível dizer que ideal seria que as mulheres tivessem a mesma liberdade que os homens têm hoje quanto ao sexo, uma vez que a liberdade do homem atual está longe da ideal possível. A influência cristã-ocidental nos incutiu – a nós brasileiros – uma idéia demasiada restrita quanto ao que seria o sexo, qual seja, que o sexo é algo pecaminoso, que deve ser praticado veladamente, que dele se deve ter vergonha, que se o deve praticar a dois, que deve ser de determinada forma etc. Nós mesmos, não por força de razão, mas por impulso de desejo mesmo, tratamos de nos livrar de algumas destas regras, afinal, o sexo somente dentro casamento, o pensar ser ele algo somente reprodutivo e o cânone de ser a mulher agente passivo em toda relação sexual não resistiram às gerações recentes e sua crescente vontade de se erguer. Porém, ainda nos crepitamos em dogmas aos quais não questionamos e acabamos por seguir pensamentos ou errados, ou que não foram frutos da nossa própria interpretação, e perigosamente nos tornamos potenciais preconceituosos, intolerantes.

Quando Cabral invadiu as terras tupiniquins, Caminha notou que os índios não “cobriam suas vergonhas”, ou seja, que não usavam nada para esconder seus órgãos sexuais. Isso nos serve como metáfora para notar como aquela influência de que falei realmente existe e, ao mesmo tempo, de como o nosso “normal” é algo distorcido. Julgaram, um belo dia, os ascendentes dos povos “civilizados” do velho mundo, que era vergonhoso mostrar o sexo, falar sobre ele em público etc. e este simples julgamento, unilateral, nos é base para acharmos perfeitamente normal isso tudo... Tanto que legitimamos (isto é, pomos em lei) aquela opinião européia.(vide o nosso “atentado ao pudor”) Não, meus amigos, não sairemos todos amanhã, ao acordarmos, pelados pelo meio da rua... (Se bem que seria uma boa!) O que importa disso tudo é que nós não devemos cometer os erros que cometeram os lusitanos que aqui chegaram naquela época. Isto é, não devemos olhar o diverso – quanto ao sexo e quanto a tudo – e tentar corrigi-lo como se fôssemos os corretos, mas, isto sim, tentar discutir a questão aberta e racionalmente, respeitando as opiniões alheias e elegendo as nossas preferências segundo nós mesmos.

A discussão deve envolver toda a sociedade, mas deve ser a escola e a família os principais promotores da discussão. Pais conscientes quanto a este assunto acabam por dar assistência emocional a seus filhos, a qual se soma à assistência didática que deve ser dada na escola. Isso acaba por tornar o sexo um assunto menos velado e mais verdadeiro, pois ele é democrático por natureza. Somem as frustrações pela orientação sexual e, com isso, surgem seres humanos mais seguros quanto a si. O sexo é leve, é flexível, é discutível, é adaptável, é dizível! Não deve ser uma conta de restaurante, que nos faz escondermos uns dos outros quando se a coloca na mesa.