O FRADE, O "HEAVY METAL" E A RELIGIÃO

Assisti a uma reportagem com um frade italiano que, nas suas horas de lazer, exerce a função de vocalista em uma banda de heavy metal. Detalhe: ele já deve estar na faixa dos setenta anos, possuindo uma vasta barba branca que lhe cobre quase toda a face, e nas suas apresentações veste-se com a batina de religioso.

Além de ser um fato surrealista ou, no mínimo, inusitado, a reportagem chamou a minha atenção, não apenas por ver um frade dedicando-se à arte da música em uma banda heavy metal, mas também, pelas declarações dele, quando inquirido por uma repórter da estatal italiana sobre os motivos pelos quais ele se dedica a esse tipo de atividade que, teoricamente, não tem nada a ver com as suas funções dentro da igreja católica.

Disse ele: “Quero estar onde percebo que existe a falta de religião e creio que neste meio isso acontece”.

E, quando perguntado sobre a posição da igreja católica, ele responde: “Não apóia, mas, também, não vem a público proibir o que faço”.

E, sendo assim, lá vai ele seguindo seu caminho musical junto a seus companheiros de banda, dando seu recado muito bem dado e, talvez, amealhando novos adeptos para a religião.

Sua declaração de que deseja estar onde percebe haver falta de religião é muito forte e muito realista, denotando o imenso amor que existe em sua alma.

O frade italiano está certíssimo em sua declaração. Sempre pensei comigo, que na vida é necessário que tenhamos alguma religião, alguma crença, algo em que possamos acreditar e seguir. Entendo que só assim sejamos capazes de alcançar o caminho do bem, o caminho da esperança e o caminho da fé.

Não importa qual seja essa religião ou essa crença. O que importa mesmo é sentir-se bem, sentir-se amparado pela entidade em que você acredita e que lhe proporciona a luz necessária para alcançar a vida plena.

Há quem não acredite em nada que se relacione à religião, ou até mesmo em nada que se relacione a Deus. Essas pessoas devem ter os seus motivos e não me cabe aqui ficar fazendo especulações, e muito menos, tecer críticas a quem quer que seja.

A visão daquele homem de barbas brancas cantando em uma banda de heavy metal, um servo de Deus para a irradiação do bem entre os seres humanos, me proporcionou uma esperança ainda maior de que alcançaremos a tão almejada paz na Terra aos homens de todas as vontades.

Não sei bem porque escrevi este texto ou, melhor dizendo, estas simples palavras. Existem certas cenas que presenciamos que são impossíveis de se apagar da nossa memória. Essa foi uma delas. Enquanto alguns possam ter assimilado aquela cena de uma forma banal e ofensiva à própria igreja católica, eu a enxerguei de um modo particular e totalmente diferente. Para mim foi uma atitude carregada de um intenso ato de fé e de amor pelo próximo.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 20/07/2008
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