Sob a égide do medo



          Os dias atuais são de inverno não apenas na temperatura externa tanto quanto ou bem mais gelado no âmago do ser humano Este, não mais acreditando no seu semelhante ante tantas maldades e perversões que a mídia lhe mostra e que ele próprio assiste nas ruas da sua cidade outrora pacata, esconde-se nos labirintos da sua alma em busca de paz, esperança e coragem para enfrentar a vida. 

          O medo tornou-se o companheiro inseparável da grande maioria do povo brasileiro. Tanto mais a violência enlouquecida , qual carro desgovernado ao perder os freios segue um rumo desconhecido e desesperador, assim o ser humano tenta fugir das suas garras escondendo-se na capa densa e mal cheirosa do medo. 
 
          Medo de sair de casa com vida e retornar dentro do seu próprio caixão ou ficar na calçada esquecido como um mísero cão sem dono até que o rabecão recolha o que restou de si. Medo de ser enganado, de confiar no outro e ver a sua confiança ser rasgada, ultrajada, vilipendiada, molhada no seu próprio sangue e jogada com asco no esgoto de uma latrina qualquer. Medo de abrir as portas do seu ser para que o outro possa compartilhar da sua solidariedade e amor. Medo de se alimentar e ser intoxicado com agrotóxicos e/ou outros produtos colocados indevidamente nos alimentos com vistas aos grandes lucros. Medo de sorrir e ser mal interpretado. Medo de fazer a caridade e possa estar ajudando a algum malfeitor que lhe agradecerá, ou não, com um belo gesto de violência.

          São tantos os medos meu Deus que estes se somaram dando origem à síndrome do pânico que insidiosamente surge qual pequenino medo que se agiganta tomando proporções imensas e devastadoras na mente humana.

          E o pior de todos os medos: o medo de amar! O medo de entregar-se plenamente ao outro, sem reservas, apenas pelo cumprimento de um nobre  dever. Sim, amar é um dever e não apenas um prazer. Haja vista que o primeiro mandamento antes da era cristão era :"Amarás o senhor teu Deus acima de tudo e de todas as coisas". Veio o Cristo na sua excelente visão daquilo que nos tornaríamos e acrescentou a este a sua grande máxima: "E ao próximo como a ti mesmo".Nos deu o melhor roteiro para seguirmos sem causar danos ao nosso semelhante e até hoje ainda não o colocamos em prática na sua totalidade, sem medo e sem reservas.