Poetando em tenra idade

Filhos são sempre, motivo de orgulho para os pais, por mais bobagens que façam. E quando essas bobagens são feitas na infância deixam ainda mais doces as nossas recordações. E, assim foi, também, com o nosso caçula. Desde que começou a dar os primeiros passos fazíamos com que ele, logo pela manhã ao acordar fosse ao seu peniquinho. Ele levantava cedinho, passava pelo nosso quarto, dava bom dia e ia para o banheiro. Na volta, invariavelmente, vinha para nossa cama – desconfio que depois do xixi ele esquecia o caminho do próprio quarto - se esparramava entre mim e a mãe, e, aí, adeus restinho de dormida...mas como era bom.

Num belo e inesquecível dia, ao nos acordar com seu "bom dia, pai, bom dia, mãe" senti um não-sei-o-que diferente. Dei um tempinho e o segui até o banheiro. Parei à porta e fiquei surpreso ao vê-lo fazendo xixi no chão, ao lado do seu peniquinho, sem se preocupar com o fato de eu estar ali, olhando ele fazer aquela bobagem. E foi uma bobagem demorada....muito xixi pra pouco menino. Esperei que ele terminasse e perguntei por que não fez o xixi aonde devia. Ainda olhando a lambança como se fosse obra de arte, me respondeu com toda a calma do mundo: “Isso não é xixi, pai; são lágrimas do meu piru”. Como se não bastasse ser criança, como se não bastasse ser meu filho, e ainda por cima, poeta. O acontecido eu guardei numa folha de papel., com letras de pura alegria. Coube. O sorriso esparramado na cara, não.

Vander Dunguel
Enviado por Vander Dunguel em 21/07/2008
Código do texto: T1090704