Restam 30 segundos

Estamos em julho, hoje é dia 21 e o ano é 2008. Eu nasci em 1986, em setembro, estou prestes a completar 22 anos. Desde os três eu estou na escola, já me formei no ensino básico, fundamental e médio, e também no teatro. Faço inglês e continuarei a fazer até me sentir segura para conversar com alguém, de preferência um gringo loiro, branco, com cara de pastel que adora uma brasileira. Desta forma ele vai ter mais paciência comigo. Se não bastasse eu também fiz espanhol, mas para me dedicar a um único idioma o abandonei e estou com o inglês debaixo do braço. Ainda em 2008 eu termino a faculdade.

Embora eu tenha 22, já estudei pelo menos 18 anos seguidos, além disso, já faço curso de reciclagem na área de comunicação e freqüento workshops sobre empreendedorismo jovem: crie sua idéia, monte seu negócio. Como típica estudante universitária eu faço estágio desde o 2º ano da faculdade. Como todo estagiotário, que sempre tem aquela pontinha de curiosidade sobre efetivação, eu já questionei meu superior (bonita palavra, não é? O mesmo serve para "colaboradores" que não passam de empregados, mas o mundo dos negócios adapta tudo e parece mais bonito assim), e a resposta que recebi foi negativa.

- A empresa não disponibilizou vagas efetivas. Não tenho nenhuma sinalização sobre isso. Mas deixo você livre para poder buscar seus objetivos. (Lá vem, é o mesmo que falam quando pedem as contas. "Só estou em busca de novos desafios", traduzindo: vão me pagar mais na outra empresa).

Já que a resposta era o que eu esperava, até porque vi outros estaguinários se formarem e saírem antes que eu, eu só pude garantir que sim, eu vou para o mercado de trabalho novamente. E aqui estou eu. Navegando por todos os portais imagináveis de programas para recém-formados e também, para atualizar todos os cadastro que estavam abandonados, eu bato de frente como uma pergunta que achei incompatível com o meu perfil.

"Descreva uma situação na qual você tinha um objetivo que ninguém acreditava que pudesse alcançá-lo e você conseguiu depois de ter vencido muitas barreiras. Qual era o seu objetivo, quais foram as barreiras e o que fez com elas, qual foi o resultado? O que você sentiu?" Tempo:30 segundos.

A pergunta com varias perguntas dentro é séria, sem ela nada de cadastro e nada de enfrentar 4.500 candidatos em uma seleção grande. Mas achei o sistema selecionador um tanto curioso. Logo abaixo queriam saber o nome dos meus pais, decidi então escrever sobre minha árvore genealógica, assim já podem pesquisar minhas origens do sul dos Alpes Suíços. Também coloquei a minha página no Orkut, desta forma eu já apresento meu círculo de amigos virtuais, presenciais e semi-presenciais. Além de saberem quais são meus costumes, manias e se eu falo axim com os outros. Por precaução eu deixei meus exames de sangue e tomografias no anexo, quem sabe não fica mais fácil na hora do software selecionador de candidatos me achar, meu código genético estará disponível. Posso até ganhar uns pontinhos porque fui pró-ativa e tive iniciativa.

Não poderia deixar de colocar meu blog, fotoblog, fotolog, meu MySpace, Facebook, meu fake no Second Life e a minha ferramenta favorita, o Wordpress. Deixei também o número do meu Skype, se rolar uma entrevista virtual eu já vou estar preparada. Coloquei também meu Google Talk e meu MSN. Meu celular eu já achei muita falta de privacidade.

Quanto a última pergunta das perguntas -O que você sentiu?

Eu comecei a me entender, o que eu senti? É uma boa pergunta isolada. Mas quando fui sentir alguma coisa os 30 segundos já tinham passado. Acho que faltou tempo no meu sistema real...

Talita Palmieri
Enviado por Talita Palmieri em 21/07/2008
Código do texto: T1090910
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