CAMPINAS, UMA MANHÃ NO BOSQUE
Dormitando ao sol de uma manhã de outono, o jacaré acaba por acordar incomodado pela ousada aventura da pequena tartaruga – a de subir sobre seu corpanzil. A platéia matinal se frustra ao ver o jacaré voltar à modorra.
- Droga, o crocodilo não atacou...
- Não tem crocodilo no Brasil!
- No zoológico tem.
- Deve até de ter, mas isso aí é jacaré.
Da grade de proteção um grupo de visitantes observa aquela cumplicidade anfíbia, com interesse – enquanto uns torcem pelo bote do jacaré, outros admiram a coragem da tartaruguinha.
O martim-pescador que pousara num galho de árvore debruçado sobre o lago, mergulha em busca de alimento. Um lambari quase que lhe escapa do bico, pois, ao alçar vôo, o pescador alado deparou-se com o olhar pétreo do jacaré.
Agora é um bugio que salta sobre as árvores, atraindo a atenção dos visitantes. Logo vem outro, outro, e mais outro – é um bando de macacos buliçosos. Passando à margem do lago, essa macacada consegue importunar o sossego do jacaré que, demonstrando sua irascibilidade, retorna à água, sacolejando-se furiosamente. A platéia vibra com o espetáculo do quelônio voador – a tartaruguinha, despertada de seu sono preguiçoso, foi parar longe, no meio do mato à margem.
- Cê viu? Cê viu? A tartaruga sumiu assim, ó!
- É, pois é, daqui uns cem anos ela ta de volta ao lago.
- Vamos ver os hipopótamos!
- Vamolá!
Recebidos escatologicamente pelo casal de paquidermes que estava satisfazendo suas necessidades fisiológicas, decepcionados e sujos, os visitantes procuram por água, muita água para se lavarem.
- Credo! Bicho mais porco! Como é que pode! Esparramar merda assim pra todo lado! Deus me livre! Nunca mais...
- Acabou o nosso passeio.
Da jaula ao lado, o rugido do leão parece, num momento desse, mais com um riso de escárnio.