COM CERTEZA

Não me venham com certezas. Sou um ser de dúvidas, de inquirições e me constituo na medida em que pergunto. Não suporto mais verdades, dogmas, inflexibilidades e outras manifestações de radicalismos e pequenez de pensamento.

Em verdade é muito cômodo ter certeza. Para tudo uma resposta pronta e uma atitude certa a tomar, baseada na mais firme convicção. Então, não há mais lugar para a dúvida, a inquietação e até a angústia. E porque temer a angústia? Porque evitar o desconforto de pisar em terreno íngreme, ou até em areia movediça? Quero os oceanos bravios, o mar revolto por tempestades de perguntas e incertezas.

Aquele que sabe, o “sábio” que encontrou o descanso de respostas seguras é um acomodado. Mais do que acomodado, é medíocre. Pois não há ali mais movimento, idas e vindas, avanços e recuos. Apenas a imobilidade da morte, a estagnação do cadáver, que na verdade não estagna, mas apodrece. Estão, pois, podres os que dizem: “Com certeza!”; ou “Sei de tudo, estou a salvo da angústia, sou um escolhido”.

Não quero ser “escolhido”, não quero parar de me inquietar. Não sou apenas isso que vejo, e que mostro. Muito mais que meu RG, meu endereço, meu CPF. Muito mais que minhas convicções que ficaram no meio do caminho. Já me pensei ser comunista, cristão, anarquista, pai, servidor público. Sou isso, e muito mais. E muito menos. Não me perguntem quem sou ou o que penso. Não direi mais nada, nada mais declararei, a não ser apenas o imposto de renda.

Creio apenas na farsa. Ou na falta do que crer. As máscaras que usamos cotidianamente são nossos sustentáculos nessa farsa burlesca que é a vida. Ninguém se atreva a mais me definir. Não quero conceitos, não quero significados.

Vivo, apenas. Escravo de minhas necessidades vitais e sociais. Trabalho, estudo, pago meus impostos. Respiro, copulo, como, defeco. Vivo...

Se por acaso alguém ler esta crônica, se por acaso alguém se indignar com o que exponho, ou se comover com o meu aparente desespero, ou minha aparente agonia; eu peço (parodiando o Cristo): Não se turvem vossos corações! Estou apenas angustiado, mais isso não é muito, nem pouco. Apenas a condição humana. Consigo viver com essa noção de finitude, de fatuidade e irrelevância dos dogmas e conceituações teóricas da história do homem na terra. Amigos (se é que posso nomeá-los assim): Tô bem, tô legal. A vida é assim mesmo. E para aqueles que chafurdam de meus argumentos, ou se chocam, ou me excomungam, ou me têm por herege, resta apenas dizer uma coisa: Infelizmente, para mim e para vocês, somos iguais. Não há maior ou menor. Apenas iguais. É isso que comumente se chama de mediocridade. Com certeza!

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 23/07/2008
Reeditado em 20/01/2011
Código do texto: T1093983
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