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VOU DE TÁXI

 
Meio dia. Rua entupida de gente. Pés caminhando em mesmas e contrárias direções. E qualquer um deles em direções  contrárias aos meus.  Ando sem direção. Tento fugir do rebuliço. Tenho verdadeira agonia quando pessoas caminham na minha frente como se a rua fosse delas. Não dão passagem e ao tentar ultrapassá-las, elas viram estátuas na frente de uma vitrine.   

Tenho pressa. A fome faz o estômago roncar. O sol e o vento frio me incomodam. O ponto de ônibus está lotado de esfomeados como eu. 

Resolvo pegar um taxi. Por sorte, o sinal está fechado e ali bem na minha frente um taxi vazio. Entro no carro aliviada com a decisão tomada. Por favor, senhor!!! O motorista olha para trás e me reconhece. Oh! É a senhora? Jesus seja abençoado. No meio dessa multidão, pegar uma pessoa conhecida é uma benção. Jesus está me dizendo que o dia vai ser “bão”.
 
Devo confessar-lhes que sou uma taximaniaca. Meu sonho de consumo, ultimamente, é um motorista particular e quem sabe um dia eu chego lá. 

Só uso carro para ir ao supermercado ou passear em lugares onde eu possa achar vagas para estacionar, com um detalhe, sem ter de procurar muito. Ainda mais agora, com esse trânsito louco em cidade de qualquer tamanho. 

Tenho preguiça de colocar o carro em estacionamentos e depois caminhar quilômetros para chegar a algum lugar onde eu queira.
Mais do que isso, eu penso na volta. Me dá pânico andar com sacolas e embrulhos, em zig-zag, desviando das pessoas para não me esbarrar nelas e ainda ouvir um palavrão.

 Palavrões não me ofendem, faço ouvidos de mercador. Porém um esbarrão pode estragar o dia de uma pessoa. Elas andam bastante irritadas. E eu não saio à rua para irritar ninguém. Só caminho pelas ruas entupidas de gente quando realmente preciso. Ultimamente, tenho precisado pouco.
 
E como eu ia dizendo, sou taximaniaca de carteirinha.

E coincidências de pegar um mesmo motorista já me aconteceram até no Rio de Janeiro. 

O próprio motorista ao olhar na minha cara, quando por acaso, entrei no seu carro dois dias depois de ele haver me levado da casa do meu filho, no Flamengo, até a Gávea, se assustou. Eu estava no Leblon querendo voltar pra casa. Acenei ao primeiro taxi e entrei. 

O motorista olhou pelo retrovisor e me disse: eu conheço a senhora! Olhei para ele e brincando  e respondi-lhe: 
-sou conhecida. Ele riu e continuou: Fui eu quem levou a senhora antes de ontem do Flamengo para Gávea.

Nem acreditei. Em pleno Rio de Janeiro, eu havia pegado o mesmo taxi. Rimos e a conversa, até em casa, rolou sobre coincidências.
 
Mas voltamos ao motorista do taxi de hoje. 

Taximaniaco tem um pouco de taxista. Adora conversar.

É terrível quando ele dá o azar de encontrar pela frente um taxista monossilábico. 

Pior ainda, quando ele encontra um daqueles que fingem não escutar ou mal humorados. 

Vixe! A viagem parece nunca terminar. 

Taximaniaco de carteirinha, quando não consegue conversar, se for mulher revira a bolsa,procurando alguma coisa e nem sabe o que e  costuma até cantar para dentro a música da Angélica “Vou de Taxi. 

Se for homem, dispara a assoviar.
 
Para minha felicidade, o taxista meu amigo “garrou” na conversa. 
E de tanto “conversê”, eu me esqueci de lhe pagar e ele se esqueceu de me cobrar.
 
Hum! Ta tocando a campanhia. Vou correr atender a porta. Deve ser ele para receber.