DORMESCÊNCIAS...

DORMESCÊNCIAS...

Aparentemente, aquela parecia ser uma noite calma. A Lua flutuava na fase nova entre algumas nuvens que teimavam por encobri-la. Nossos olhares se ergueram como que extasiados pelo fascínio da cor prata que refletia um brilho especial na nossa retina.

Aparentemente era isso. Tudo muito belo e envolvente.

Porém, em dado momento, bem próximo ao satélite, um objeto surgia com os mesmos aspectos lunares.

- Uma segunda Lua? Luas gêmeas?

Os que estavam com os olhos voltados à amplidão começaram a se preocupar. O fac-símile começou a se deslocar ora para a direita, ora para a esquerda e as vezes aumentava sua circunferência, dando-nos a impressão de que se aproximava da Terra.

Quando isto sucedia, ouvia-se um rumor, ao longe, do povo assustado. Medo? Histeria coletiva? Confesso que, era um medo que aparentava.

De repente, aquela suposta lua foi se transformando e, ao praticar um vôo rasante mostrou que não revelava tranqüilidade. Numa de suas investidas, arremeteu-se violentamente - derrubando postes e árvores - deixando em sua passagem um rasto de fogo, tal qual cometas milenares.

Nas ruas, o rumor e o escarcéu dos cavalos chamaram a atenção: Sobre seus dorsos cavalgavam crianças de cor e raças diferentes, gritando para que abríssemos caminho. Centenas de corcéis bufando em suas ventas.. Centenas de crianças que passavam e não olhavam para traz...

Lembrei da fúria do “Katrina”, da invasão do “Tsunami”, das grandes hecatombes da natureza e pensei: Será o fim dos tempos?

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Por fim, acordei. Revirei-me na cama, puxei o cobertor, ajeitei o travesseiro e vi que o relógio ainda me dava uma hora para continuar meu sono para depois sair e trabalhar.

Durante a manhã, comecei matutar.

A Terra está cheia de gente ultrapassada, propensa ao sinistro do fogo que vem de fontes depuradas. O mundo está cheio de crápulas, manchado por uma escória política que precisa se renovar.

E os cavalos? Estariam representando uma tração animal, ligeira e vigorosa, disposta a impulsar uma mente criança ao caminho comunitário e religioso?

Ficou no ar uma pergunta, cuja a resposta também.

É preciso sonhar para mudar as coisas? As vezes sim, as vezes não porque, enquanto estivermos no transe dormescente, o mundo não nos abrigará das intempéries e das políticas mal traçadas pelos homens.

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Obs: Sábado, 24 de setembro de 2005. (sonhei e passei para o papel).

Júlio Sampietro
Enviado por Júlio Sampietro em 09/02/2006
Código do texto: T109791