RENOVE O AR DE SUA VIDA!

Sabe aqueles lindos dias de sol, quando a gente aproveita o tempo bom para fazer uma faxina na casa, organizar aquilo que largamos pelos cantos e botar os travesseiros, as almofadas, os colchões para tomar um ar? Pois então, por que não botar tudo ao sol?

Coloque suas idéias, coloque seus desejos, coloque suas crenças e coloque seus medos. Areje sua mente como quem resolve tirar os ácaros do carpete, não deixe nada na sombra, na umidade, no esquecimento. Acabe com essa rinite da vida. Chega de espirrar aborrecimento, de tossir orgulho e lacrimejar ódio. O nosso espírito também precisa de uma faxina de vez em quando.

Limpamos nossas casas, levamos o carro para um check-up, lavamos a roupa suja e os pratos acumulados, esquecemos, porém, que o nosso corpo é a maior morada. É onde convive muita gente ao mesmo tempo: crianças, velhos casmurros, adultos apressados, adolescentes neuróticos. São todos parte de uma só pessoa, mas cada um tem necessidades diferentes. E aí já viu, é bagunça na certa. Por que não começar a arrumar aos poucos as gavetas de sua vida? Vá devagar, tire um tempo do seu dia, nem precisa ser um dia inteiro, os minutos que você gasta no ônibus, na fila do banco, no trânsito caótico já bastam. Inicie por aquela prateleira de idéias poeirentas, cheia de vontades esquecidas. Você queria comprar aquele livro, mas nunca teve tempo de ir até à livraria? Vá hoje. Viu? A prateleira já ganhou mais espaço. Você ficou morrendo de vontade de dizer que ama demais um amigo? Pois telefone, faça uma visita. Agora sim, eu já posso enxergar até a madeira, antes escondida debaixo de tantas teias velhas.

Que tal umas gavetas? Essas são mais difíceis, mas não impossíveis. Geralmente despejamos mágoas, tristezas e decepções ali. Trancamos tudo e jogamos a chave fora. Sugiro que você comece procurando a chave primeiro. Por que aconteceu isso? Quando foi a gota d´água? Depois de respirar fundo, abra a gaveta e dê uma olhada rápida. Feche-a! Respire fundo de novo. Viu? Não foi tão ruim assim, as palavras, os olhares, os gestos magoados continuam ali, entretanto, nenhum monstro terrível saiu para lhe machucar. Esse simples abre e fecha pode renovar sua coragem para, aos poucos, abrir a gaveta de vez, deixando tudo à mostra. É preciso renovar, também, o ar daquilo que nos dói.

E, por último, se ainda lhe sobrar fôlego, se suas mãos não estiverem calejadas e as suas pernas bambas, dirija-se para aquele armário, encostado na sua massa cinzenta. É, esse aí mesmo, cheio de cupins, envelhecido, capenga e pronto para desabar. Não se assuste com o tamanho. Afinal, você queria o que depois de tantos anos empurrando tralhas para dentro dele? Abra a porta e abra as janelas, para que o sol possa entrar também. Permita-se soterrar pelas idéias, depois, com cuidado para não quebrar nada importante, separe aquilo que não lhe serve mais. Nem pense em fazer uma sacola para dar aos pobres. Ninguém precisa de pensamentos velhos. Jogue fora essa sua convicção ultrapassada de que só se pode ser feliz acompanhada. Puro entulho! Amasse bem esse seu relacionamento sem liberdade, esse seu emprego infeliz, esse seu senso crítico impiedoso. Agora que o pano molhado já entrou em ação, aproveite para guardar um pouco de auto-estima e humildade por ali. Sabe naftalina? Pois então, funciona do mesmo jeito.

Agora dê uma boa olhada geral. Não ficou melhor? A pintura pode até estar precisando de uma segunda mão, a cortina um pouco amarelada e o carpete, ultrapassado. Mas, com certeza, o ar está muito mais respirável. Propício para uma frente quente de mudanças. E tomara que apareça logo um furacão na sua vida, que tire tudo do lugar! Assim você se obriga a arrumar todas as idéias novamente. Só não deixe o mofo acumular, ele pode acabar cobrindo tudo, inclusive você.