A Favorita.


Não vou falar da novela das nove. Até agora desconheço quem é a Favorita da trama. Disseram-me que o público só ficará sabendo no final e não sei se terei paciência ate lá.

Reconheço a dificuldade que envolve tal mistério. Tanto na fantasia, quanto na vida.

Na semana que passou fui com minha filha a um restaurante light aqui perto e muito bom, que conta agora com um atrativo a mais nas quintas-feiras: uma sessão Massagem Express. 

Sylvinha, minha filha, foi primeiro. Fiquei beliscando uma saladinha de entrada, meio à força, enquanto aguardava a minha vez.

Terminada a sessão vi  o profissional,  um homem calmo, de olhar  tranqüilo, conversando com minha filha e me aproximei.

Com simpatia e bom-humor ele me perguntou se ela trabalhava carregando peso, pois havia encontrado muitos pontos de tensão em sua coluna cervical. 

Respondi que ela carregava pesos desnecessários para os  seus 22 anos, o tempo todo. Que era perfeccionista. Que não parava de procurar coisas para fazer, além de trabalhar em um escritório e de estar fazendo a monografia do fim do curso de arquitetura.

Confesso que adorei ouvir alguém experiente abordando esse assunto,  sobre o qual converso sempre com ela. 

Não que eu não me orgulhe por minha filha ser responsável, ousada e trabalhadora. Aliás, eu a admiro demais e não tenho o menor problema em assumir minha corujice, porém sei que ela se exige em excesso e que isso não é bom.

Não me poupei, ao contrário, informei que eu também era tensa e que não agüentaria esse estilo de vida que ela levava.

Ele riu e disse que o importante era exteriorizar a energia de alguma forma, pois se nos mantivermos nesse moto-contínuo, sem darmos vazão á ansiedade acumulada, o corpo trataria de fazer por nós, somatizando doenças. O que não é não nenhuma novidade para mim.

Sylvinha argumentou  que descarregava a ansiedade na academia. Acrescentei que ela fazia ginásticas as 6 h da manhã, o que para mim é madrugada e mais um motivo de estresse.

Ele indagou o motivo do horário. Ela disse que era o único vago na agenda e que tinha uma listinha que cumpria todos os dias.

Rimos da listinha e ele quis saber em que lugar ela estava nessa lista.Não houve resposta.

Ainda rindo, o mestre yogue, que também faz massagens deliciosas, disse a frase mágica: 

”- o primeiro lugar dessa lista tem que ser você. Você deve ser a favorita entre todas as outras prioridades.”

Chegou a minha vez e o homem virou a minha cabeça literalmente, alem de me abrir mais um campo de visão. Saí de lá flutuando e consciente de que somos nós que elegemos os favoritos de nossas vidas e é melhor que sejamos nós mesmos os eleitos, só assim poderemos viver bem conosco e com os que amamos.

Aqui em casa somos três favoritas, de três gerações diferentes, tentando vencer a herança genética e os interesses diversos, sem desbancar o favoritismo de nenhuma.


Evelyne Furtado, 26 de julho de 2008.



Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 26/07/2008
Reeditado em 31/07/2008
Código do texto: T1099249
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