QUANDO...
Quando vierem as férias, vou viajar para bem longe,
talvez uma praia pequena, talvez uma grande cidade, cheia de
antigas histórias; talvez...
Quando vierem as férias, levarei somente uma saco-
la pequena, poucas roupas, muitas idéias, pouco dinheiro e mui-
tas folhas, muitas canetas, lápis, borrachas, papéis coloridos,
papéis brancos, sei lá o que mais...
Não levarei celular, não tenho notebook (nem quero
ter esta porcaria, o mundo todo vai junto com este maldito
aparelho), e tomarei distância dos chatos, das mulheres tagare-
las, das danceterias e bares, da boemia, enfim. Manterei, somen-
te, a cerveja gelada (em doses homeopáticas, é claro).
Quando vierem as férias, estarei só. Só como todas
as pessoas do mundo estão desde que desembarcaram neste
mundo maluco. Estarei só, sozinho com o branco papel branco,
com a tinta escura das canetas, com o grafite cinza-escuro do
lápis; então, vou me perder olhando a escura solidão da noite
vazia, esperando que as palavras venham a mim, devagar, em
lento compasso, esperando que as palavras misturem-se todas
e se separem e se misturem de novo. Então eu as escolherei lentamente, saboreando-as...
Quando vieram as férias, estarei só. Aliás, estaremos sozinhos: eu, as letras, as palavras, a humanidade inteira, enfim...