HOMEM RIDÍCULO

Eu conheço um homem ridículo. Ele tem os hábitos previsíveis, nunca sai de sua rotina. Pela manhã, logo cedo, está já barbeado, vestido em bermuda e camiseta, calçando um belo par de tênis, caminhando na praia, para lá e para cá, em busca de uma juventude perdida e da saúde que se esvai lentamente com o passar dos anos.

Eu conheço um homem ridículo. Aos domingos ele lava o seu carro. Passa e repassa um pedaço de pano na lataria do veículo, como quem acaricia a mulher amada. De quando em quando ele se preocupa em trocar de carro, o que é bom, pois terá sempre um motivo para viver.

Eu conheço um homem ridículo. Suas idéias nunca são originais, seus discursos ocos, sua fala monótona e enfadonha. Não se interessa em entender as relações que o forjaram, o mundo que o cerca. Sua maior preocupação é ganhar dinheiro, ocupar cargos de prestígio em seu trabalho e ostentar perante a sociedade bens de consumo e artigos de luxo.

Eu conheço um homem ridículo. Seu medo de morrer é tão grande quanto seu temor perante a vida. Para ele não há outras maneiras de se viver que não aquela que aprendeu com seus pais.

Seu caráter repetitivo o torna quase um clone de seus semelhantes e a opinião de seus pares a seu respeito é sua maior prisão.

Eu conheço um homem ridículo. Suas emoções são tão vívidas quanto a expressão facial de um boneco de cera. Seus sorrisos cretinos remetem à alegria sem razão dos dementes e lunáticos. Seus relacionamentos são tão autênticos quanto romances de telenovelas.

Eu conheço um homem ridículo. Ele acha-se forte, o dono da razão. Está sempre preparado para defender seus pontos de vista, mesmo que tenha que recorrer a violência, ainda que seus argumentos sejam frágeis ou mesmo inexistentes.

Eu conheço um homem ridículo. Solitário, ele teme ter que olhar para si mesmo. Está sempre cercado de outras pessoas, não consegue lidar com o silêncio ou a lucidez, por isso está envolto sempre em barulho (seja a algazarra de um show de rock ou pagode, a gritaria histriônica de fanáticos religiosos ou o som da TV) ou entorpecido de álcool e/ou estupidez.

Eu conheço um homem ridículo. Portador de parcas virtudes, toda sorte de desqualificações compõem seu caráter: omisso, covarde, mesquinho, arrogante, idiota, egoísta... E ainda se acha imagem e semelhança de um deus.

Eu conheço um homem ridículo. Eu o vejo nas ruas, nos parques, nos ônibus, na casa ao lado, no trabalho... no espelho.

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 30/07/2008
Código do texto: T1104708
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