E a cultura, como fica?

“A gente não quer só comer, a gente quer comida, diversão e arte”

Arnaldo Antunes

Sei que me chamarão de mentiroso, mas é a mais pura verdade: já ouvi autoridade enaltecendo os feitos da cultura no município e complementar : “Vejam o quanto aumentou a cultura do milho, da mandioca.....”. Esse falou, mas há os milhares que pensam igual e não o expressam.

Cultura é o ânus do sapo, que só sai do chão com os pulos do próprio; perde apenas para o da cobra, que se arrasta o tempo todo. Saúde e segurança estão nos catecismos discursatórios de todos os políticos, a educação formal, que é muito mais formação do que educação, também. A cultura como um todo, é relegada ao um segundo plano. No máximo se privilegia um ou dois segmentos, usando dois critérios: sua relevância para as pessoas importantes e, no outro lado, seu apelo popularesco, o que pode ser traduzido, imediata ou futuramente, em votos. E se esquece do primordial: a educação com cultura evita um vastíssimo número de problemas, principalmente na saúde e na segurança. E sai bem mais barato.

O termo tem significado vasto, mas fiquemos na origem: vem de cultivar, cuidar. Isso significa resgatar constantemente, tratar com carinho, lapidar sempre, fazer crescer. O quê? Os valores , as tradições, os anseios e suas manifestações nas mais diversas formas. E o poder público tem um papel fundamental no contexto.

Os partidos montaram ou montam agora seus programas de governo para as prefeituras. Já houve programa em que a palavra “cultura” sequer aparecia e outros em que o assunto era tratado com tanto desdém que seria melhor não aparecer mesmo. Alguns, para fazer jus ao ditado “A exceção que confirma a regra”, faziam uma abordagem séria e cheia de boas intenções, nem sempre cumpridas.

E se, neste ano, se procurasse fazer programas que privilegiassem a todas as manifestações, que dessem oportunidade aos eruditos e aos verdadeiramente populares, sem cair no pecado de confundir “popular” com bobagens impostas por uma mídia jabazeira, mas resgatando os valores originais de cada comunidade, sem o rótulo de “coitadinhos” e sem julgar que são incapazes de compreender manifestações mais sofisticadas? Que previssem ações e viabilidade de orçamento para que os agentes culturais não precisem esmolar para conseguir resultados? Que propiciassem contato e estudo em locais e circunstâncias variadas, inclusive e principalmente fora do município? Que fossem ouvidas e consideradas as mais variadas camadas da população e suas inquietações? Que não houvesse donos da verdade?

Difícil? Impossível? Ou necessário?