REFLEXÃO DE MEIO DE ANO

Tal qual a parada de fim de ano para avaliação do ano que passou, costumo, também no meio, parar e fazer uma análise dos acontecimentos desde o início do ano. Muitas lembranças boas e ruins me vêm à cabeça. Mas tem uma que não coloquei pra fora, de que não falei, não expus ao mundo e insiste em querer sair. Preciso falar sobre isto. Trata-se de uma decepção.

Minha maior decepção até agora neste 2008 de mil e uma notícias do arco da velha não foram os políticos. Estes, não decepcionam... nada, ou pouco, acontece além do que espero deles mesmo. E quantas ações e vidas giram em torno deles...

Minha maior decepção não foi por amor, mas por traição. Senti-me e sinto-me traída, sim, não vou negar.

Minha maior decepção está entalada na minha goela desde abril. Veio da atitude, do desmascaramento, do descaramento e da real face de um artista que admirava, que consumia, que imaginava gente como a gente, defendendo nossa moral, nossos valores, criticando aqueles que queriam engolir o povo brasileiro.

Ziraldo me encantava com sua inteligência, aparente simplicidade, ar de humilde, carisma, capacidade criativa. Além do Pasquim, um jornal em que demonstrava o inconformismo com a situação política do país, ficou famoso por seus cartazes, seu Menino Maluquinho, a Turma do Pererê, entre tantos outros trabalhos que o levaram à fama e a uma vida confortável, com certeza. Fui sua fã de carteirinha por anos e o vi envelhecer, sem mudar de feições.

Imaginava-o um senhor com alma de criança, que fazia arte de criança para criança e ainda ganhava dinheiro com isso. Imaginava um senhor desenhando livre e alegremente por ter contribuído, com seu trabalho e civismo, à nação na ditadura. Foi reconhecido por isto, como artista e como brasileiro.

Quanta decepção! Imaginava-o um trabalhador alegre com alma de menino. Mas era o próprio mineiro comendo quieto enquanto fingia defender os brasileiros dos políticos da ditadura. Em abril passado ganhou o direito de receber uma pensão vitalícia de R$ 4 mil por mês, além de desfrutar de uma indenização de mais de 1 milhão de reais, porque colocou o dedo na ferida dos militares, porque trabalhou em prol dos brasileiros e de si mesmo. E assim, ele se mostra: é apenas mais um neste espetáculo chamado Brasil.

Sinto-me com todo o direito de expor minha indignação. Ele se expôs para encantar, atrair admiradores e vender seu produto e sua imagem. Comprei seus livros, li seus artigos, conheci sua obra. Assim, sinto-me no direito de reclamar, contestar e decidir: eu não o compro mais.

Ele formou a sua Turma do Pererê, deu uma de Menino Maluquinho, tirou a panela da cabeça dele e jogou na nossa e, sem vergonha na cara, mostrou que esse mineiro come quieto mesmo! Mais uma vez, sinto-me uma idiota!