Uma Rosa Vermelha

Quando eu era bem pequena, desse pequena de corpo, já tinha um lado profundamente religioso. Que depois evoluiu, graças a Deus, até chegar nesse jeito que continua evoluindo, graças a Deus.

Anos atrás, vi um homem que é fera no assunto, no assunto de como ser mais próximo de Deus, mas ele me pareceu tão equivocado. E tão deslumbrado. Duas qualidades incompatíveis com. Ele disse que nunca muda, que é sempre o mesmo. Deus me livre de ser sempre o mesmo. Até Raul Seixas, preferiu ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Eu sei que isso você já sabe. Mas tenha paciência, logo vou dizer coisas que você ainda não sabe.

Esse mesmo homem tem um rebanho de 5.000 membros. Uma rebanhada gorda, tenra, bem fornida de carnes e a culpa é do pastor. Porque um pastor espiritual, diferente do outro pastor, do pastor de pasto, nunca pode engordar demais a carne do seu rebanho. A carne tem que ser abatida. Exatamente para que possamos mudar e nos tornar a cada dia, mais semelhantes a Cristo. Não tem outro jeito de evoluir. A evolução espiritual do homem precisa ser marcada pela flexibilidade que possibilita a mudança.

Ainda me recuperava dessa decepção - bem feito, quem manda idolatrar - estava me recuperando, quando mais uma vez ele subiu ao púlpito, e disse assim: “vamos agradecer a Deus, nesta manhã, pela alegria de ter aqui a nossa família reunida.” Eu já estava engrossando o coro do amém, quando ele disparou: "enquanto tantos tem um filho no cemitério." Não pude dizer amém e ali danou-se de vez a minha admiração pelo homem.

Mas não pelo Cristo que nEle habita. Porque se Cristo fosse procurar um homem perfeito, teria que dar a volta ao planeta terra e regressar para o céu tão unigênito quanto aqui chegou. O homem é apenas o vaso que contém o tesouro. Há dias em que ele exibe o tesouro, e nós o festejamos e o chamamos de bênção. No outro dia, para que não se glorie, Deus esconde o tesouro e ele nem percebe que está mostrando o barro, o mais puro barrro. Nesses dias, o mundo fica mais triste. A carne, mais vermelha, na vitrine do cristianismo formalizado. Público para comprar, fila imensa: nunca falta! A mídia, essa não sabe de nada, e nem quer saber. Aqueles que sabem, enganam-se um pouco, nunca têm a certeza, e aplaudem. E Deus, que sabe tudo, sempre tem certeza, e jamais se engana, chora.

Deixa eu trocar o assunto porque senão lhe perco. Descobri, de um jeito bom, que três ou quatro parágrafos falando desse assunto pode ser demais para uns. Mas descobri, de um jeito melhor ainda, que pode ser de menos para outros. E é por aqui que vou me equilibrando, escrevendo cartas coletivas, sem contar com ninguém. Amar é estar disposto a perder, a ver o outro ir embora, sem dizer: dane-se! E olhar o horizonte, perscrutando a volta. Como o pai espera a volta do filho pródigo.

Agora, vou contar uma coisa meio engraçada. Eu faço academia com a senhorita X. Ela levanta 200 kg com as pernas e 20 kg com os braços. Tem um corpo de fisiculturista ou quase. Mas ela tem um espírito, e esse espírito tem sede de Deus.

Faço aqui uma pausa para lhe liberar, porque não vai ter jeito, hoje vou falar de Deus e dos homens. Se a história for triste, vou falar disso. Se for alegre, falarei disso também. Fique sabendo. E se quiser ir por outro lado, vá. Porque eu vou por aqui mesmo.

Então, como eu dizia para uns, a senhorita X tem um espírito que está pedindo para ser habitado por Deus de maneira definitiva, não só ocasionalmente. Eu devia ter percebido, quando ela me disse, exausta, no meio de tantos ferros: - “mas eu tenho uma vaidade que me atrapalha.”

Ela só falou isso. Eu ouvi, mas fingi que não entendi. Ou melhor, não ousei entender. Seria possível que ela estivesse mandando uma mensagem codificada? Seria possível que ela quisesse dizer o que eu estava pensando com aquela frase que disse? Pois ela disse assim mesmo: -“mas eu tenho uma vaidade que me atrapalha.” E enumerou quantas botas tinha, quantos perfumes, quantas bolsas. Tantos! Mas o olhar, esse me pareceu unicamente triste.

Fiquei zonza com a alegria brevíssima que me tomou.Poderia ter falado a ela de Maria Madalena, de Marta, de mim e de outras tantas que, um dia, derramaram o seu frasco de perfume sobre os pés de Jesus. Mas não falei. Logo depois, esqueci. Não sei porque esqueci. Talvez, porque encaminhar uma ovelha para bom pasto, cuidar dessa ovelha, fazê-la crescer saudável, dá trabalho. Sei o trabalho que dei e também sei que sou preguiçosa.

Na semana seguinte, chegou a Sandra. Sandra é minha filha que habita outras paragens. Fomos juntas à academia (que eu já contei: fica em frente de casa). Sandra é uma pastora, na acepção mais plena da palavra. Meio metro de gente ( um pouquinho mais) e uma grandeza tamanha de espírito que envergonha alguns gigantes. Ela é especialista em detectar uma ovelha perdida, limpar, tratar, curar e amar para sempre amém. Aonde chega, as pessoas ficam em volta, ligeiramente encabuladas, sem saber porque, adivinhando a luz, pressentindo o bom trato. Aonde ela vai, vai com ela o amor de Deus. Tão grande o amor de Deus em minha filha Sandra!

Sandra viu a senhorita X. E com seu olhar de raio x viu mais que ferro, músculos e nervos. Antes de ir embora, deixou-me com a missão de entregar uma carta para ela. Não sei bem o que dizia a carta. Mas sei o seu conteúdo: o evangelho em gotas, que, se bem lido e compreendido, teria grande chance de se transformar em cascata.

Cascata que jorrou em lágrimas. Dias depois, Senhorita X me contou: sempre que um homem de Deus, visitava a sua igreja, sem conhecê-la propriamente , apenas vendo-a ali, sentadinha no banco, esse homem profetizava que Deus tinha uma grande obra a realizar em sua vida. Obra para quem não sabe, nada tem a ver com cimento, com tijolo e com palha. Tem a ver com materiais mais nobres: Ouro,prata, pedras preciosas. Pois esses homens – foram mais de um- profetizaram essa obra celestial em sua vida, exatamente como Sandra. Mas o engraçado – não sei se é engraçado, acho que é triste- o triste é que : quando um dos membros da igreja, inconfomado com tal distinção, foi perguntar ao pastor local o que achava dessas profecias, ele respondeu: "imagine se Deus vai usar esse corpão." E riu.

Deus chorou.

Escrevi para Sandra, contando o espisódio, em busca de uma orientação. Afinal, a ovelha é dela. Sandra respondeu assim em sua linguagem de telegrama: “Diga para ela nao olhar para Sambalate e Tobias, quem escolhe é Deus!! Deus escolheu Davi !!! Diga pra se dispor, deixar Deus aparar arestas da vida dela, obra é Deus quem faz, apenas dizer eis-me aqui. O resto é inveja. Pastor que fala isso, nao acredita que Deus muda o homem. O Sangue de Jesus tem poder!!!Deus ama a ... e ponto. “

Concordo com você Sandra. Deus é amor e Deus é um riso.

O texto que escrevi não é exatamente um “Vem Comigo”. “Vem Comigo” é um texto que postei nesta manhã, e que  está sendo, para mim, um aprendizado de recantista. Talvez o meu texto mais lido num único dia, e o menos comentado. Só o Lobo da madrugada deu uma uivadinha básica ( obrigada, Lobão!). Não sei exatamente o que isso significa, ainda sou nova por aqui. Mas quero lhe dizer que não é todo dia que nasce uma rosa amarela no meu jardim. E esta é vermelha para lembrar a redenção de Cristo.