Melhor na Imaginação

Puxou-o pelo colarinho, desviando sua atenção da tela.

"É a cena do balão que eu te disse, olha, presta atenção...".

Mas o filme estava tão no comecinho que ela atribuiu mais importância ao que tinha a dizer que à tal cena do balão. Os dois tinham lido o livro, há um ano. Exemplar autografado naquela feira literária. Ela ficava com o primeiro turno, das 21 às 23h e ele das 23h até o sono chegar. Sempre adiantado, sempre à sua frente.

Esperou o desfecho. Gostou do que viu.

"Na minha imaginação era melhor. Tudo é sempre melhor, na imaginação.", ele sussurrou com algum descontentamento, dando um beijinho de leve na ponta do nariz delicado de sua companheira, resfriado pelo ar condicionado. "O que você ia dizer mesmo?".

Ela sorriu. Não valia a pena estragar a sua teoria de que tudo é melhor na imaginação. Normalmente é verdade, mesmo, tinha que concordar.

Retribuiu o beijinho carinhoso com um melhor, um daquele beijo-cala-a-boca, que por si só já diz que a vida real está muito, muito melhor que o imaginado.

Porque era exatamente o que ela teria dito no minuto anterior.