Uma aula diferente

Um poema, uma parlenda, um texto que informava sobre as olimpíadas de Pequim. Foi assim o início da aula com a roda de conversa sobre leitura e os variados tipos de textos.

Folheando um gibi, caça-palavras na revista picolé, pude perceber a grande importância dos variados materiais pra incentivo a prática da leitura agradável.

Em meio a tantos livros, me pus a discorrer pelas letras e ilustrações, na busca de um poema que chamasse atenção, foi quando percebi um conto que já havia ouvido do meu avô.Que surpresa, que lembranças boas, que saudade das tarde ao pé da cama, meu avô deitado balançando a rede da minha irmã caçula, essa já estava no décimo sono se é que se pode dizer assim, e ele continuava balançando e eu ali pedindo pra contar mais estórias.

Engraçado, meu avô era um agricultor sem estudos, sem leitura, que mal havia terminado a terceira série, mas sabia contar como nenhum historiador ou escritor as melhores fábulas, lendas, estórias da carochinha, contos do Zé Besta, das princesas com seus vestidos bordados em ouro. Um com o mar e todos os peixes, outro com o céu e todas as estrelas, outro com o jardim e todas as flores.

Fiquei atenta a tantas recordações, inebriada, de corpo e alma prostrada nas lembranças boa da minha meninice.

Eu ali perdida em meio aos alunos e tantos livros, tantas vivências, tantos sonhos.

Confesso que hoje foi a minha melhor aula, e devo ao meu avô, im memoriam, mas vivo na minha lembrança e gosto singular pela leitura de poesias e textos diversos.

O barulho dos meus alunos silenciou e eles quiseram saber o que significava cada expressão quase morta na sociedade em que vivem, de vídeo-game ou Internet, “santa luzia passou aqui com seu cavalinho comendo capim, Santa Luzia leve o cisco de mim...”

Lembrança das vezes em que meus olhos se enchiam de argueiros e eu pedia: vô sopra aqui meu olho! E ele rezava assim.

A aula passou muito rápida uma manhã inteira submersa em lembranças de uma infância mergulhada nos contos de fada, outras naqueles momentos de abrir o baú da vovó e folhear centenas de literatura de cordel, foi assim que aprendi a ler, com meus apenas quatro anos, numa casa simples, cercada de galinhas, quintal imenso cheio de laranjeiras, mamoeiros, cajueiros, e eu ali perdida num mundo de leitura e faz de conta.

Mais uma manhã passou até mesmo a diretora ao chegar na sala percebeu como rico tinha sido o aprendizado das crianças e eu percebi que não era mérito meu, mas de um prazer de ensinar a valorizar a cultura tentando resgatar os valores já quase esquecidos.

Vim pra casa refletindo sobre minha prática e analisando como é importante mostrar as crianças dessa geração os costumes passados, a valorização da natureza, do incentivo à leitura.

Imersa em poesias, contos, lembranças, reflexões, minha manhã acabou, porém meu dia não adormeceu, está vivo na lembrança dos meus discentes.

E na minha memória viva está: a criança princesa que em mim não morreu.