Devagar eu Aprendo.

Devagar eu Aprendo.

Ana Maria Ribas Bernardelli.

Sou nova no pedaço e tenho algumas dúvidas. Toda sociedade tem regras e aqui não deve ser diferente. Alguém pode me dizer, por exemplo, por que cada vez que escrevo um texto falando sobre Deus, aparece logo ao lado o convite para eu me inscrever num seminário? E se falo de Raul Seixas, sou convidada a fazer meu mapa astral?

Não precisa responder: Desconfio que estão nos usando para vender qualquer coisa, não importal qual. Eita mundo mercantilizado.

Essa foi fácil né? Agora responde esta: Se quando a pessoa comenta o seu texto e diz "Parabéns. Belo texto." Só isso e vai embora. É para acreditar?

Uma amiga indica a sua escrivaninha para outra, que tece considerações: "Fui enviada por fulana de tal, gostei, volto outras vezes." Significa que vai voltar?

E se ela não volta, você pode ir até lá: Toc. toc, toc, vim saber por que não voltou?

Você escreve um texto em duas vozes: a voz do cotidiano e a voz interior; esta lhe parece tão bela, enquanto a outra tão banal. Pode acontecer de alguém ignorar a voz de dentro e comentar a voz de fora?

Pode! Essa eu respondo: Pode sim!!! Meu Deus que falta de abstração!

E se eu comentar "que falta de abstração" não estarei impondo o meu abstrato ao seu concreto?

O texto tem a assinatura de um colega. Diante de tanta beleza você quer dizer alguma coisa, nem que seja pelo menos um óhhh! mas esse óhhh lhe parece tão pouco diante de tudo o que foi dito. Como se chama isso? Enlevo, sublimação?

E quando há versatilidade, leveza, originalidade e lhe faltam palavras para dizer qualquer coisa, nem que seja: Vicissitude.

Você pode escrever no comentário: Por que será meu Deus que nunca consegui escrever assim?

Todas as visitas que lhe fazem devem ser retribuidas? Todos os e-mails que você recebe, comentando o que está em cada comentário devem ser agradecidos?

E quando você se empolga na hora de retribuir o e-mail, escreve um jornal contando a sua vida recantista, e a colega responde com três linhas? Como se chama isso?

Essa eu respondo também: Isso se chama da parte que escreveu o jornal "eu sou uma burra" e da parte que respondeu " devagar você aprende."

Ah o mundo, esse mundo tão complicado das relações humanas com as suas variáveis sinceras, delicadas e inqualificáveis. Sem essas últimas seríamos todos banidos porque a vida não é feita só de paixões mas também de vicissitudes.

Vicissitudes: Acabei de pesquisar no dicionário. Significa mudança ou diversidade de coisas que se sucedem. Instabilidade das coisas. Revés.

Será que serve aqui? Acho que serve.