Eu não vivo de Dinheiro.
Ana Maria Ribas Bernardelli.

Não posso escrever só porque você quer. Tenho que escrever quando eu quero. Porque no momento em que escrevo só porque você quer, prepare o cheque - tornei-me uma escritora profissional. Então, fiquem assim, fingindo que gostam de me ler, um pouco, mas sem muita intensidade, senão eu acredito. 

E já vou avisando que, durante esta semana, tenho escrito todo dia,  mas na semana que vem, volto a pregar e aí Deus é quem sabe. Se Ele deixar, escrevo aqui fora de mim, e se Ele não deixar escrevo só por dentro de mim.  Mesmo. Ensinar a palavra de Deus é a minha missão maior. É o meu trabalho. Aqui eu me divirto. 

Desconfio que, no Brasil, não se respeitam os direitos autorais do escritor. Desconfio da pior forma possível, da forma em que se tem certeza da existência de uma coisa ruim, mas ainda se quer só desconfiar. Não desconfieis para que não sejais desconfiados, é uma máxima de vida que eu procuro seguir aprimorando a lei do amor. 

Eu tive esse sentimento indefinido - chamemos de sentimento indefinido- eu tive esse sentimento  indefinido, que contraria a minha máxima cristã,  quando publicaram o meu livro "Não há Jerusalém sem Gólgota." Nunca tive acesso a números. Se foi editado o que estava ali, não sei. Se foi vendido o que o relatório me dizia, também não sei.  Não havia como estar no contrato - e nem seria possível- que eu conferisse anualmente o estoque. Eu não tinha como adivinhar  quantos leitores iriam à livraria para comprar Jerusalém e sairiam levando o meu Gólgota debaixo do braço. Leitor é tão distraido, nem lê direito o título. Ele quer ler algo sobre Jerusalém, então leva Jerusalém sem perceber que o Gólgota está indo de contra peso. Ele não pagou pelo Gólgota, mas leva assim mesmo. "Come tu este rolo. Na boca te será doce, mas no ventre te será amargo como fel." Deus é um riso até quando fala grosso.

  Não há Jerusalém sem Gólgota é um livro de fazer chorar.  Por que funciona assim: Jerusalém é um lugar para o qual todos desejamos ir. Estou falando da Jerusalém celestial. Só que não dá para você entrar em Jerusalém, sem ter conhecido o Gólgota. Espiritualmente é isso. A cruz é um fato que não pode ser contornado. Geograficamente, para os mais terráqueos, para aqueles que não querem ir a lugar algum, além do cemitério, para esses também não há Jerusalém sem Gólgota. O Gólgota é um monte que está situado dentro de Jerusalém.
 
Escrevi esse livro para os primeiros, entre os quais, me incluo.

Mas, porém, todavia, contudo, eu não escrevo livros originariamente  para você, eu escrevo para mim. E depois que escrevi para mim, então sim, percebo que escrevi também para você.

 Essa foi uma das minhas maiores alegrias: ver o meu livro distribuido nas livrarias de todo o Brasil. Certa vez, Maurício Rocha, que é escritor mambembe feito nós, e um bom evangelista, foi evangelizar um povo por esse Brasil afora. Foi longe, não me recordo qual estado. Quando chegou lá, não acreditou. Ele que me sabia tão circunscrita aos limites da minha circunscritancidade, ele foi tomado por uma alegria súbita, quando entrou em uma  livraria, de uma capital brasileira, e viu lá o meu livro, o pequeno entre os imortais, caladinho ao lado de outros nomes de peso da literatura evangélica. O meu era o único nome que não pesava. Nomezinho leve, de caipira que ainda sou.
 
E esse é um grande problema. Não o ser caipira, mas o nome que não tem a mídia, que sustenta o nome, que sustenta a mídia. Isso atrapalha. Os nomes que assinam as obras, pesam mais do que o conteúdo que a obra contém.  

 Isso foi em 2.000, a primeira edição já esgotou, a livraria mudou de endereço e sumiu, o domínio do livro voltou pra mim, eu não editei de novo,  porque você - fala sério- você não compraria um livro de uma tal de Ana Maria Ribas Bernardelli.
 
Ou compraria?