SOLIDÃO

Evaldo da Veiga


" O único lado bom da Solidão é ir ao banheiro de porta aberta"

    Frase mais ou menos assim foi dita pelo saudoso Antonio Maria.
Jornalista, compositor e autor de memoráveis sucessos:
Suas Mãos, Ninguém me Ama, O Amor e a Rosa, Canção dos Teus Olhos, Manhã de Carnaval e Samba de Orfeu (para o filme Orfeu do
 Carnaval, de Marcel Camus), Canção de Ninar Gente Grande,
e vale comentar e dar uma dica: depois de sua morte foi
 homenageado com músicas suas e da Dolores Duram em
" BRASILEIRO PROFISSÃO E ESPERANÇA",
escrito por Paulo Pontes e com narração de Paulo Gracindo.
    Foi gravado em LP e a dica é verificar se já rodaram em CD,
porque se trata de um dos melhores espetáculos musicais
 já acontecidos no Brasil.
    Bem, fugi um pouco do tema mas vamos prosseguir:
    Homem de muitos amigos, respeitado no mundo da música 
e das letras, mesmo assim, Antonio Maria se sentia só.
Era alegre e risonho em seus contatos, mas sentia medo
 da Solidão, fenômeno estranho.
   
Novamente vou fazer parênteses pra informar uma coisa legal:
ele namorou Danuza Leão e dizem que ela era gamada.
    Que namoro hein?. Amarro-me na Danuza, muito franca,
ataca e defende um lado e o outro, diz o que acredita ser verdade.
Entende de namoro. Não é feministas nem machistas,
acredita que homem e mulher devem viver numa boa, isso é o que vale.
   
    Mas, dando corda ao bonde, não vejo razão aparente para
 o consagrado Antonio Maria nutrir pavor pela Solidão.
    Em verdade mesmo, em se tratando de Antonio Maria,
 tudo era razoável.
    Uma vez li que ele era caseiro e um excelente chefe de família.
Bom Chefe de família até deve ter sido, mas vivendo na rua,
na boemia, namorando fora, levando aquela vida que ele levava
 que despermite ser caseiro.
    Vivia a vida noturna do Rio e às vezes na companhia do Vinícius de Morais ia curtir a Boemia Paulista . Tenho um amigo que um dia disse: -
    se o cara gosta da vida noturna de São Paulo, é notívago e boêmio mesmo, porque aquilo lá é um xarope.
    Ouço maravilhas da vida noturna de São Paulo e o que meu amigo fez foi brincadeira de rivalidade.
    Estou divagando muito e o que pretendo mesmo é falar de Solidão.
    Vamos lá:
    Considero estar só, muitas vezes, excelente oportunidade para avaliações, desnudamento íntimo pleno, que nos permite distinguir coisas que passam rente, pertinho ao nosso lado e ficam 
invisíveis e perturbadoras.
    Solidão pode e deve ser período próprio para saneamento da alma.
    Creio que seja isso que quero dizer.
E até temos vários exemplos desta minha afirmativa. 
Grandes obras dos excelsos filósofos foram precedidas da Solidão.
Alguns se afastavam voluntariamente do convívio humano,
buscando sintonia com o pleno. Bom exemplo é a produção esplendida do Sermão da Montanha. Jesus, nele, deu seu maior Show.
    Jamais existiu na terra outro discurso tão eloquente atravessando milênios.
    Obra muito maior dos que os milagres,
por que o Sermão das Montanhas serve para resolver todos
 os conflitos humanos, íntimos e sociais, domésticos, bairristas... e mundiais.... viva o Sermão da Montanha.
    Mas retornando a coisa que diz das nossas limitações,
eu amo ficar só, algumas vezes; assim como gosto estar acompanhado de amigos e da mulher namorada. Cada coisa no seu momento e advogo a tese que ficar só, muitas vezes,
 é necessário, imprescindível...
    A mulher namorada pode ser aquela de casa mesmo (risos),
desde que ela não encha o saco (risos), seja boa companhia, saiba conversar numa boa, não queira nos prender em
 sua masmorra de posse.
    Só é boa companheira quando namorada amiga, amante,
 numa incrível versatilidade, valendo isso também como exigência 
das mulheres ao comportamento dos homens.
    Muitas mulheres esquecem, muitas vezes, de ser namorada amiga, e ficam cobrando uma atenção que só poderia ser plena,
se ela não esquecesse que é necessário conquistar sempre.
    Nas questões de afinidade e carinho descomportam 
direitos adquiridos.
    Não é necessário dizer que o que se aplica como direito
 e obrigações da mulher, são aplicáveis aos homens. 
    Ressoando, homens e mulheres obrigações e direitos iguais.
    O processo de conquista é dinâmico, exercitamento constante.
    O que se fez de bom agora não serve pra todo o tempo,
tem que existir renovação de estoque, assim como fazem as lojas rsss.
    A diferença é que as lojas vendem e os casais trocam:
dão atenção, recebem atenção, dão carinho e amor e recebem.... 
e vai por ai...
    Não existi direito adquirido a uma deferência especial,
necessário à conquista de ontem, de hoje e de sempre.
O que se pode conseguir, sem laborar na criação dos pressupostos essenciais, é uma atitude de benevolência ilusória.
    Mas a verdadeira atenção, enamoramento total,
é decorrente do ambiente morno, macio, suave, envolvente,
através do autêntico namoro-amizade.
    Namorar é ser amigo, aquele que é melhor e mais presente.
Naturalmente, levando em considerações as distâncias inevitáveis.
    Mas elas se traduzem em juntinhos, nas variadas nuances do amor.
    Bem, minha pretensão de falar de Solidão falhou, não disse quase
 nada, e temos que convir que seja um tema bem difícil, controvertido, e eu suponho que é porque a Solidão seja tão diversa quanto à pluralidade de gente.
    Bilhões de pessoas, bilhões de Solitários,
alguns Encontros...


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Evaldo da Veiga