A Galinha dos Ovos de Ouro.
Ana Maria Ribas.

São 15 horas, eu estava dormindo, e acordei.

Isso não é o óbvio ululante. Leia até o fim, e compreenderá a mensagem. Vai-lhe render ouro.

Fique tranquilo: não vou fazer nascer um daqueles filhos que me nascem vocacionados para  abstrair. Não esse. Esse é apenas um passarinho que estou liberando da gaiola. 
Sem gracinhas, por favor.  

Ontem escrevi para os que sofrem  e fiz chorar.
 Antes de ontem escrevi para os que riem e fiz sorrir.
Antes de ontem ontem - tres antontem- escrevi para os reflexivos e fiz pensar.
Antes de ontem ontem ontem - quatro antontem - escrevi para os perdidos feito cão vadio e não sei o que fiz.
Porque cão vadio não volta nem para revirar de novo a carta do lixo. Mas eu me esforço.

 A plasticidade ensina: tenho sido reflexiva, ponderativa, abusiva, conclusiva, dispersiva, malversativa, e agora não sei como fazer para concluir essa coisa com iva. 
Já sei: meu marido chama Ivo.

Ivo viu a uva. 
Ele vê quando quer.
Ivo gosta de uva. 

Já fui chamada de dispersiva, ainda que de maneira delicada - "seus textos são de uma dispersão deliciosa". Isso é muito perigoso. Porque  o que é delicioso pode se tornar enjooso.  Eu preferia que me dissessem: “seu texto tem sustância" Como a sustância do tutano de boi. Então eu saberia que o texto não foi, que ele ainda é.

 Sou dispersiva quando quero inserir Deus nos meus textos  e não tem jeito de fazê-lo de outra forma. Então dou o meu jeito e o meu jeito é sendo dispersiva. Vou de Gênesis a Apocalipse na dispersão, sem diáspora,  e você nem percebe que sou uma espiã secreta a serviço de Deus.
 Nessas horas eu me comovo com o esforço que faço para ensinar. Sou uma ensinadora. Nas horas de maior dispersão, repare como estou com uma régua na mão. 

O caminho é reto como uma régua. Eu sou ligeiramente torta. Mas quanto me esforço para que todos possamos apreender a mínima idéia de Deus.
Essa já me faria feliz:  “Deus é um riso até quando está brabo.” Ele já foi comigo.

Outro dia,  fui ouvir um pregador que estava discorrendo sobre Mateus 1 - a genealogia de Jesus. Ele gritava muito para tirar água das pedras. Eu saí com sede.  E não havia riso. Se ele falasse suavemente sobre as mulheres da genealogia de Jesus, teria tirado o Sangue. Porque com excessão de  Maria todas foram "ferradas".

Qualquer dia  discorrerei sobre o tema aqui. O nome  será: "Rosas de Rubi". Porque se eu escolher: "As mulheres da Genealogia de Jesus" você não entra nem a pau.
 
Agora vou contar o motivo que me trouxe aqui sem fazer mais rodeios. Tenho sido tomada por uma urgência de escrever. Como se tivesse que dizer logo tudo, antes de ser posteridade. As palavras me vêm quando estou acordando. É isso o que significa: 
"São 15 horas, eu estava dormindo e acordei.” 

Isso quer dizer: “acordei com as palavras jorrando como águas de uma mangueira fina ( minha mangueira é fina e contínua, parece não parar nunca).”
 
Então, pensei: “Meu Deus, vou morrer em breve.”

E Deus me respondeu – Deus me respondeu nesse pensar que se confunde com o meu, mas sei que não é meu, porque é muito puro. Puro como o brilhante: “Não, filha que nada. As Palavras estarão sempre aí, mas você escreve de afogadilho porque pensa que elas são suas, e vão fugir dos seus dedos. Mas elas sou Eu. “No princípio era o Verbo”, lembra-se?”
 
Quase caí de costas, não caí porque já disse: estava deitada.
 
Então é isso: Deus é a Palavra! E todos nós ficamos aqui pensando ter descoberto o ôvo da galinha.
 
Deixem a galinha chocar sem pressa. A palavra não é nossa: ela é de Deus!

Vou voltar a dormir.