UM LAMENTO AO EQUÍVOCO

O homem vive em função do futuro, em tudo o que ele faz e em tudo o que ele pensa. O tempo que virá é onipresente sempre, mesmo porque o hodierno passa a ser uma incógnita para esse homem, que nunca soube extrair o que de melhor se pode obter desse instante. Esquece esse, de viver cada segundo do hoje e é certo, que esse momento passa sem que se aperceba e por vezes, quando pretende retomar um novo caminho, já lhe parece inviável a empreitada.

Com o casamento, nascem os filhos, torna-se pai e monta suas perspectivas de um futuro no aconchego familiar; esquecendo que o mundo muda a toda hora, que o tempo passa mais rápido e que as atribulações são tantas que esse homem não percebe o tempo passando, que o futuro é sempre o amanhã e quando esse amanhã se torna o hoje, o tempo presente; ele sequer nota a sua chegada e assim, esvai-se o póstero por entre os poros da estrada da vida.

Certa vez escutei de um filho, falando sobre seu pai: - esse tanto havia trabalhado para suprir as necessidades de sua prole, que quase não tivera tempo para as conversas entre pais e filhos, as brincadeiras quando em crianças e a cumplicidade que estes esperavam. E lamentava que ele houvesse partido ainda tão novo e por certo, nunca se apercebeu dessas carências no dia-a-dia da família e enfatizava: um pai não deve adiar esses momentos, já que o futuro é sempre acompanhado da incerteza.

Acredito que mesmo com o passar dos anos, com todo o avanço tecnológico, com as sensíveis mudanças pelas quais vem passando o mundo e o ser humano, creio que pouco mudou esse homem, em se tratando do espaço de atuação na sinuosidade entre o homem e o tempo; seu apego ao futuro, ao incerto, em detrimento da oportunidade por ele desprezada.

Para este o passado é quase inexistente, não aprendeu com os erros, que por muitas vezes já o fizeram acertar. É buscando no passado, ou seja, vivendo o passado, que se concretizam no presente metas deixadas para trás. O futuro será sempre desconhecido para quem depende da vida e não pode mensurar o quanto dessa, ainda lhe resta.

Que nunca nos esqueçamos do tempo que virá, assim como, daquele que já se foi, mas que saibamos usufruir cada instante, de cada hora da vida doada, a esse ser a quem o denominamos de humano. O tempo a viver é o hoje, do ontem os ensinamentos, do amanhã, já será lucro...

Rio, 10 de agosto de 2008.

Feitosa dos Santos