MOMENTOS DE LOUCURA

Quando o mundo ficou cinza... não encontrei chão e me perdi, nada fazia sentido.

Em 1997 perdi um irmão e minha mãe, em 1998 um tio e o meu primeiro filho. A dor era tanta que entrei em depressão profunda, eu contava dia após dia o tempo que estávamos separados, deixava um espaço na cama para o meu filho deitar, ficava “mentalizando” para sentir o calor do seu corpo, sonhava com ele todos os dias.

Na verdade me tranquei na minha dor, a sensação era que alguém colocou a mão dentro de mim, tirando tudo, estava oca, só tinha a armação do corpo. Quando pegava transporte coletivo descia na parada errada, tinha momentos de ausência, não sabia onde estava e ficava perguntando as pessoas, mas ainda não tinha me dado conta onde eu estava embarcando.

Encontrei um amigo por acaso ( ele também perdeu uma filha), estava indo para o trabalho quando ele me ofereceu uma carona, se desculpou por não ter ido me fazer uma visita e acrescentou...Se você quer viver terá que aprender a bloquear a sua mente.

Deus foi tão generoso comigo que enviou anjos para que eu suportasse a dor, na época tinha amigos no Seara de Deus e eles vieram em meu socorro, passaram a fazer o Evangelho no lar, uns por motivos particulares ficaram ao longo do caminho, mas um ficou com a nossa família durante dois anos, todos os sábado estava na minha casa na hora marcada, esse anjo chama-se Osman, ele me alimentava de fé e de novos valores, tenho por ele imenso carinho e eterna gratidão, sem esquecer os demais.

Certo dia o meu filho caçula me perguntou, que tipo de espírita é você?

Eu ainda existo, era o apelo do meu filho, olhe prá mim minha mãe preciso de você, não conseguia me dar conta do quanto estava sendo egoísta achando que a dor era só minha.

A resposta para o meu filho foi a seguinte:

-esqueci tudo, tenho que reaprender tudo de novo.

O meu filho era meu amigo, meu confidente, meu grande companheiro. Quando fez dois anos do falecimento do meu filho, resolvi parar de contar os dias que nos separavam, pensei, a partir de hoje eu não vou contar mais, mesmo assim continuava no meu isolamento social, não suportava ouvir músicas, ambientes festivos, ou mesmo pequenas reuniões familiares. No meu tempo livre, me entreguei a leitura de livros espíritas e de certa forma encontrava consolo. Vivia exclusivamente para trabalhar e estudar, nada “além disso “ despertava o meu interesse.

Um dia acordei e me dei conta que estava doente, tinha acabado de entrar no coletivo e tinha um grupo de jovens, estavam descontraídos, sorrindo e tocava uma música, nesse momento a alegria dos jovens passou a me incomodar e a música também, a vontade que tinha era sair correndo dali. Graças a Deus consegui me controlar e passei a refletir sobre a minha conduta, aquele sentimento egoísta, até certo ponto invejoso não era meu.

Não me reconheci, fiquei assustada com o que eu estava fazendo comigo e passei a me policiar, fui treinando a bloquear a mente e, com o tempo confesso que aprendi. Posso afirmar que nunca voltei a ser como era antes, falta algo, é um pedaço de mim que partiu com ele. Continuo apaixonada pelo meu filho, ele tinha muito de mim. Era sensível, honesto, verdadeiro, fiel as amizades. Gosto de olhar as estrelas e tenho certeza que, em algum lugar, algum dia iremos nos reencontrar e ai talvez vá conhecer a razão da minha existência.

Que posso dizer...São tantas as emoções!!!!

Sao tantas as experiências vividas e celebradas e choradas, mas nunca lamentadas. Cresci através da dor, da alegria,do amor. Só tenho que agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de ter dois filhos amados e amigos.Que me trouxeram alegrias, felicidades,preocupações, tristezas, mais acima de tudo que vieram dar sentido a minha vida e amor muito amor.

"Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi".

VAN
Enviado por VAN em 11/08/2008
Reeditado em 20/07/2012
Código do texto: T1122533
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.