Azimute

A tecnologia nos torna cada vez mais “encontráveis”, onde quer que estejamos. Esconder-se ficou quase impossível, e perder-se, só com muito esforço, não importa se no centro de uma megalópole ou entre nada e lugar nenhum.

No primário aprendemos que a bússola foi uma invenção determinante para as grandes navegações e descobertas e que o astrolábio transformou-se no último grito de modernidade para determinar onde se estava. Muito antes disso, navegadores mais rústicos e mais corajosos fizeram da Estrela Polar sua guia e atravessaram oceanos. Será que vieram até onde “não existe pecado do lado debaixo do Equador”, conforme Caetano, e passaram a usar o Cruzeiro do Sul? O astrolábio foi o primeiro GPS e bússola... bem a bússola era a mesma de hoje em dia: velha e fiel, apontando o Norte, mesmo para quem a maltratasse.

Com a bússola é que se determina o azimute e, com base nele, toma-se as decisões sobre a jornada o ocaso ou a preguiça de seguir adiante. Gosto da palavra “azimute”, tem um belo som e um belíssimo significado; carrega poesia dentro de si. Vem do árabe “as-sumut”, que significa caminho ou direção e é a direção a seguir ou estabelecida, medida em graus a partir do grau 0, que é o Norte. Em outras palavras, é a diferença entre o Norte e a direção que se tomou ou deve ser tomada.

A precisão e a quantidade de informações do GPS dá, tiram a aura romântica da bússola, pois ela se limita a indicar a direção, o resto fica por conta de seu usuário. Por conta e responsabilidade. Com ela, decide-se para onde ir, faz-se a medição e aí é que começa a aventura, o desafio, a graça. Após marcada a referência, de acordo com o azimute dado, a jornada, seja ela onde for, na terra, mar ou ar, segue seu destino, mas nunca em linha reta, a não ser que o trecho seja curto. No mar, há ventos, ondas, correntes, parcéis, ilhas; em terra, árvores, rios, montanhas; no ar, nuvens, ventos etc.. Tudo interfere no caminho a seguir e aí é que está o valor do azimute: ele dá o direito de desviar, de achar outras alternativas e até de se perder. Sabendo onde chegar, basta escolher o caminho, sujeito às surpresas que sempre aparecem.

O GPS não faz apenas isso; ele lhe diz exatamente onde você está, mostra o mapa e o que terá que ser enfrentado para chegar onde se quer. Igual àquelas mães super protetoras que não dão qualquer oportunidade de decisão. Alguns até falam. Algo como: “Dobre à esquerda na próxima quadra.” Se você passa, vem uma vozinha irada: “Eu falei esquerda, babaca”. A última parte, inventei, mas seria bom para alguns partidos políticos um tanto esquecidos de sua origem, não seria?

Decididamente, prefiro a bússola. É sempre melhor o possível erro por escolher os próprios caminhos do que a segurança de ser monitorado o tempo todo. Prefiro azimute e determinação. E uma bússola bem resistente