Morando sozinho

O Jornal Do Almoço de hoje mostrou uma matéria bacana, sobre pessoas que, solteiras ou casadas, optam por morar sozinhas, e assim encarar os problemas inerentes à essa condição.

Claro que no horário do almoço, quando o mundo real não pode aparecer na mídia pra não tirar o apetite de ninguém, a reportagem apresentou como personagens uma jornalista e um advogado, ambos com um padrão de vida confortável, de dar inveja à grande maioria da população brasileira.

Poderia render uma matéria tanto ou mais interessante, uma abordagem com enfoque naqueles que não penam apenas quando vão pra cozinha ou pra cama sozinhos, mas que além disso vivem de estágios exploradores, a maioria sem vale-transporte nem vale-refeição, recebendo bolsa-auxílio que pode variar entre R$ 300 e R$ 600, dependendo da carga-horária que o abnegado jovem da “elite universitária” brasileira agüenta conciliar com os estudos.

Para este jovem, o sonho de morar sozinho precisa ser alimentado dia-a-dia com generosas doses de alienante bom humor, um desapego pessoal e familiar quase de um monge budista e uma aquiescência às más condições de sobrevivência que deixariam Alexander Supertramp, em seu Magik Bus no Alaska, com inveja.

Não é por querer mudar o mundo que sugiro esta pauta, que acho até bastante singela, daquelas que qualquer repórter pode fazer e o expectador não vai deixar o prato na mesa e ir às armas depois de assisti-la. Confesso que o interesse surgiu daquela curiosidade que a gente tem de se reconhecer através dos personagens que a mídia, o cinema, a literatura, o teatro nos oferecem.

Como já disse no início, a matéria até me convenceu. Só não me identifiquei muito com os perfilados, nem mesmo com a jornalista, que pela sina do seu ofício, também deve saber o que é ganhar pouco.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 15/08/2008
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