A VARA QUE SUMIU NA OLIMPÍADA
Para o esporte brasileiro o dia amanheceu cinzento.
Ninguém se conformava com o caso da vara que desclassificou a ginasta brasileira de salto com vara.
Foi uma derrota casual!
Mas o quê me chamou mais atenção foi o grande debate que se instalou em todas as bocas. Nunca vi tanta gente preocupada com uma simples vara. Deu-se a impressão de que nossas florestas realmente desapareceram: não temos varas. Já não se fazem mais varas como antigamente.
- Pois bem! Então vamos ao que interessa.
Naquela tal manhã cinzenta levantei e fui buscar meu pão, de todos os dias, na padaria do Tuna, um velho amigo, e lá fiquei encabulado com o quê vi e ouvi: uma senhora discordava veementemente sobre o sumiço da vara da nossa atleta, a tal vara que desapareceu no campo sagrado da olimpíada chinesa. Peguei a conversa pela metade, mas foi o suficiente para conferir o desagrado de uma mulher comum, uma anciã, muito contrariada com a desclassificação da nossa esportista auriverde, e que, ela desabafava assim dizendo:
- Tuna, foi imoral o quê fizeram com o Brasil! Ela (a ginasta) jamais merecia ser eliminada das competições. Eles (os chineses) foram safados demais, esconderam a vara dela, que era grande, e deram para a pobrezinha uma varinha muito mixuruca . Se ela tivesse pulado com a vara grande que costumava trepar, juro que ela ganharia o ouro. Pois a bicha é muito boa de vara. Vocês viram? O ouro foi pra uma lambisgóia russa, muito feia.
O silêncio reinou por um breve instante no local, mas eu permaneci atento a tudo. Encabulou-me, mas achei maravilhoso ver e ouvir aquela senhora, em pleno amanhecer, debatendo de assuntos esportivos em época de elevada seca no nordeste e de inflação em alta. Eu já estava acostumado ouvir, em muitas manhãs, discussões sobre preços, juros, mercadorias, trocos, insônias e muitas coisas, mas, de esporte...me espantei.
Pois é - continuou a mulher -, espero que na próxima olimpíada o nosso comitê tenha mais vergonha na cara e dê muita atenção aos nossos esportistas que lutam como cão para nos representar e depois voltam derrotados com a cara-mais-lavada-do-mundo e ainda têem a cara-de-pau de dizerem na tv: Missão Cumprida:
- Muito bem, muito bem! – disse-lhe o comerciante devolvendo-lhe algumas moedas de troco, sem, contudo, esconder o sorriso que a fala da mulher proporcionou a ele e a mim também.
A mulher saiu com um sorriso radiante, brilhando-lhe a face. Missão cumprida, ela disse.
Agosto, 2008.