Pelos filhos da pauta

“Retroceder Nunca, Render-se Jamais” é o nome de um daqueles filmes do Van Damme com títulos bacanas, que a gente via no vídeo-cassete, no início dos anos 90. Mas também poderia ser o lema dos defensores do bom jornalismo, que em sua longa e ingrata batalha pela obrigatoriedade do diploma, tem o retrocesso na qualidade e liberdade da informação, o foco principal a ser evitado.

Mas contra quem estão lutando os abnegados que acreditam na responsabilidade social que só um jornalismo de qualidade pode cumprir? Não estariam entre os já reconhecidos inimigos – barões da imprensa e meia dúzia de políticos - futuros profissionais cujo interesses passam longe da ética e da qualidade?

Sou contra a desregulamentação, embora reconheça que os argumentos favoráveis a ela são na maioria das vezes melhor fundamentados do que os que a rejeitam. O motivo salta aos olhos: ninguém pensa em outra coisa que não seja manter seus trocados no fim do mês, e este é o lado negro do debate, escolhido absurdamente como pauta por defensores da necessidade do diploma até em palestras e manifestos. O jornalismo passou de ofício de alta relevância social para mero meio de subsistência de um punhado de antigos sonhadores.

Queria um amplo debate sobre a comunicação social praticada no Brasil, onde se contemplassem questões como a sustentação ou não, pelo jornalismo, da necessidade de informação que nós julgamos tão importante à sociedade. Os brasileiros sentiriam falta dos diplomados mediadores da realidade, caso estes fossem escanteados?

Quando entrará em pauta a promíscua relação de muitos repórteres com representantes do poder, que trocam algum prestígio pelo tácito ofício de porta-voz dos oficiosos? A universidade assumirá um dia o compromisso de não formar profissionais com tal postura?

Pensando como alguém que há anos optou pelo jornalismo como profissão, queria presenciar um duelo retórico onde a verdadeira função e valor do jornalista saíssem exaltados, triunfantes e definitivos. Mas como, se o interesse reside tão somente na garantia do estágio e do piso salarial?

Que os maus repórteres, os empresários maus, os vis editores e os nauseabundos políticos trataram o jornalismo com negligência tal que o deixou enfermo, à beira de juntar-se à outras profissões extintas, como o lambe-lambe ou o ponta-esquerda, isso é fato consumado. Mas que candidatos a futuros profissionais não estejam pensando em reverter este quadro lúgubre, isto sim preocupa muito.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 20/08/2008
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