Desabafo pra falar de Brasil

Estamos em ano eleitoral. Como já é do conhecimento de todos nós brasileiros, teremos um longo período de poluição sonora e das nossas já tão sofridas vias e praças públicas. Cartazes, panfletos, comícios, falatório e pouca resolução. Nenhuma novidade, apenas a repetição de um velho cenário enfadonho e vicioso que nos extrapola a paciência a cada quatro anos.

As faculdades e universidades deveriam ser mais atentas com relação ao pensamento e desenvolvimento humano de seus alunos, sejam elas públicas ou privadas. O alunado serve a efeito de contagem e qualidade meramente numéricas. De modo geral, a administração e as pessoas que ocupam os cargos de maior representação e respeito diante dos universitários não conhecem a realidade da própria instituição em que trabalham. Os mestres também foram acometidos pelo mal do relapso, não tem tempo ou não se acham motivados o suficiente para conhecer as potencialidades de cada aluno, as queixas e a projeção dos estudantes. Desinteresse e tirania daqueles que são os principais formadores de opinião.

Releia os dois parágrafos acima. Ou não releia. O que importa é que me entenda – o que uma coisa tem a ver com a outra? O primeiro parágrafo com o segundo. Integração, à primeira vista, nenhuma.

Na faculdade se escuta alguém dizer que venderia o voto por cem reais. Em seguida, o mesmo sujeito reiterou que se candidatará a vereador nas próximas eleições - não pode perder a oportunidade de entrar no jogo. Com outras palavras, que beiram ao vulgar, ele não deixaria de "mamar nas tetas do Estado". Não é de se espantar que cada um de nós já tenha vivenciado cenas como a mencionada acima, num país cujo povo subsiste achatado pela corrupção dos governantes em todos os âmbitos da administração pública e que assiste a tudo bestializado. O espantoso - muito mais que espantoso, uma franca vergonha – é relatar que o nosso aluno-futuro vereador pretende se graduar em (nada mais, nada menos!) que Direito. E depois, com o canudo em mãos, ele prestará concurso para Juiz Federal. Se uma situação assim não nos fizer cair o queixo, realmente o Brasil se deixou vencer.

Todos estão suscetíveis à corrupção, fantasma que ronda e perturba a serenidade e retidão de caráter desde a descoberta de qualquer associação entre poder e lucro. Sempre é tempo de lembrar e falar dela porque – vírus HIV que é - apenas será dizimada quando todos souberem da sua existência e de como se prevenir contra ela. Estreitas relações entre professor e aluno numa classe de Direito fazem uma diferença inimaginável – em todos os sentidos da palavra, se é que você me entende.

Que tal varrer essa poluição em todos os seus modos possíveis? Sonora - campanha eleitoral não é propaganda. Urbana - que comecem ajudando na manutenção das vias públicas em estado de mínima decência. Mental - meu voto não é moeda de troca nem obrigação, é direito assegurado.

Definitivamente a nossa consciência não está à venda, nem antes nem depois das eleições.

Géssica Ranieri
Enviado por Géssica Ranieri em 20/08/2008
Código do texto: T1137605
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