Inspiração x Rotina

Hoje me propus fazer uma crônica, ou uma divagação que é na verdade o que todas as minhas crônicas se transformam, contudo ao procurar a inspiração me deparei com um terreno nulo em fertilidade, nem uma grande idéia, apenas o vazio perturbador me acenava taciturno.

Então assustada resolvi mudar de direção, saí do campo das idéias e adentrei o dos sentimentos, buscava uma emoção que fizesse as palavras surgirem com naturalidade, porém outra vez tudo estava vago.

Preciso de razão e sentimentos para escrever, não sei elaborar textos técnicos, nunca fui boa em redações oficiais; a escrita assim como a leitura tem que vim acompanhada de prazer, só me serve assim. Por isso penso que o motivo de não está conseguindo produzir uma simples crônica, é porque minha vida esta oca, terrivelmente oca.

Estou totalmente cooptada por tudo aquilo que um dia temi, sucumbi à rotina e acostumei meus sentidos com as barbáries humanas, não sinto mais dor pungente pelo sofrimento alheio; os amores platônicos já não nascem; sinto que já não sei mais sentir e isso não dói é apenas uma constatação.

Tornei-me bruta pouco a pouco, não fui capaz de perceber a mudança, a rotina se incumbiu de tudo e, foi muito eficaz no seu propósito. Entretanto não quero ser assim, mesmo concordando com Camões quando este diz: “Os bons vi sempre passar/no mundo graves tormentos; /e, para mais me espantar, /os maus vi sempre nadar/em mar de contentamentos.” Quero voltar a ser passional, sofrer por amores impossíveis; me indgnar com as mazelas humanas; sorrir com as pequenas vitórias dos outros e minhas; senti forte emoção ao ouvir um cântico de louvor ao Deus vivo; saborear as minúcias de um livro, conviver com os personagens, enfim preciso voltar a me sentir viva.

Mesmo correndo o risco de sofrer o destino dos bons é melhor que esse estado de torpor que eu me encontro, também vá que para mim “Anda o mundo consertado.”